Revista Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 16 ? n. 45 ? out./dez. ? 2018 Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Páginas 138-155 AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: Estratégias dos Assentados de Santana do Livramento/RS h�p://dx.doi.org/10.21527/2237-6453.2021.57.11763 Recebido em: 27/11/2020 Aceito em: 28/06/2021 Jeferson da Luz Ferron, 1 Alessandra Troian, 2 Raquel Breitenbach 3 RESUMO A agricultura familiar, diversa e heterogênea, tem desenvolvido historicamente uma série de estratégias para se re- produzir social e economicamente. O presente estudo buscou analisar as estratégias de reprodução social u�liza - das pela agricultura familiar assentada de Santana do Livramento/RS. Metodologicamente a pesquisa caracteriza-se como qualita�va, realizada a par�r do método estudo de caso. As técnicas de pesquisa u�lizadas foram: pesquisa bi - bliográ�ca e documental, entrevista semiestruturada e observação não par�cipante. Foram entrevistados 11 agricul - tores familiares assentados de 3 diferentes assentamentos rurais do município. A análise dos dados deu-se a par�r da técnica de análise de conteúdo. Como principais resultados destaca-se que as estratégias de reprodução social ado- tadas pelos agricultores são diversi�cadas, mas não diferem entre os assentamentos. Na adoção das estratégias os agricultores levam em consideração as necessidades da família, a área de terra, localização do lote, acesso a polí�cas públicas e suas experiências de vida. Apesar da existência de 30 assentamentos rurais no município, os assentados enfrentam di�culdades para permanecer no campo, demandando que o Estado assuma a sua função de propulsor do desenvolvimento rural. Palavras-chave: Assentamentos; pluria�vidade; leite; diversi�cação; desenvolvimento. FAMILY AGRICULTURE AND SOCIAL REPRODUCTION: STRATEGIES OF THE SETTLEMENTS OF SANTANA DO LIVRAMENTO/RS ABSTRACT Family farming, diverse and heterogeneous, has historically developed a series of strategies to reproduce socially and economically. The present study sought to analyze the social reproduc�on strategies used by se�led family farming in Santana do Livramento/RS. Methodologically the research is characterized as qualita�ve, carried out using the case study method. The research techniques used were: bibliographic and documentary research, semi-structured interview and non-par�cipant observa�on. Eleven family farmers from three di�erent rural se�lements in the mu - nicipality were interviewed. Data analysis was performed using the content analysis technique. As main results, it is highlighted that the social reproduc�on strategies adopted by farmers are diversi�ed, but do not di�er between se�lements. In adop�ng the strategies, farmers take into account the needs of the family, the area of land, loca�on of the lot, access to public policies and their life experiences. Despite the existence of 30 rural se�lements in the mu - nicipality, the se�lers face di�cul�es to remain in the rural environment, demanding that the State assume its role of driving rural development. Keywords: Rural se�lements; pluriac�vity; milk; diversi�ca�on; development. 1 Universidade Federal do Pampa ? Unipampa. Santana do Livramento/RS, Brasil. 2 Autora correspondente. Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade Federal do Pampa, Campus Santana do Livramento, RS. Rua Barão do Triunfo, 1048. Centro. CEP 97573-634. Santana do Livramento/RS, Brasil. h�p://la�es.cnpq. br/0939231468483828. h�ps://orcid.org/0000-0001-8207-6436. alessandratroian@unipampa.edu.br 3 Ins�tuto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul ? IFRS ? Campus Sertão. Sertão/RS, Brasil. AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 139 INTRODUÇÃO A expressão agricultura familiar recebeu dis�ntas de�nições ao longo do tempo. Inicial- mente foi caracterizada como agricultura de subsistência, pequena produção e pobreza rural (MATTEI, 1999). Já Schneider (2004) trouxe um signi�cado mais abrangente de agricultura fami- liar e a de�ne como sendo as propriedades em que o trabalho e as decisões são realizados pela família, com produção agrícola e mão de obra prioritariamente familiar. A agricultura familiar tem destaque no desenvolvimento das nações, pela sua capacidade de suprir alimentos básicos para o mercado interno (WANDERLEY, 2003), no entanto o reconhe- cimento econômico, polí�co e social da categoria no Brasil iniciou apenas a par�r da década de 90 do século 20, mo�vado pelo processo de redemocra�zação ocorrido no �nal da década de 80, que culminou com a elaboração da Cons�tuição Federal de 1988 (MEDEIROS, 2003). O início da década de 90 marcou a entrada da agricultura familiar no vocabulário aca- dêmico, destacando sua riqueza, especi�cidades e heterogeneidade. Estes agricultores dis�n- guem-se pelas estratégias de reprodução (ABRAMOVAY, 1992). Entre as caracterís�cas da agri- cultura familiar destaca-se a diversidade econômica e a heterogeneidade, além da u�lização do trabalho dos membros da unidade familiar para produção de alimentos para autoconsumo e comercialização, gerando renda para se reproduzir socialmente (MATTEI, 2014). Por viverem no campo e serem proprietários dos meios de produção, a reprodução dos agricultores familiares depende da própria capacidade de escolher alterna�vas e desenvolver habilidades diante dos desa�os que lhes são postos pelo ambiente social e econômico em que estão inseridos (SCHNEIDER, 2003, 2009). Consequentemente, a forma de reprodução da cate- goria é diversa, heterogênea e se reinventa ao longo do tempo (LAMARCHE, 1993). A agricultura familiar no município de Santana do Livramento passou a ser foco de estudo devido, basicamente, a dois mo�vos: a) ser o município gaúcho com maior número de assenta- mentos rurais do Estado e b) o contraste veri�cado por meio da expansão da agricultura familiar assentada com a presença histórica de grandes propriedades rurais, voltadas para o agronegó- cio (AGUIAR, 2011; MONTEBLANCO, 2013; TROIAN, BREITENBACH, 2018). Em Santana do Livramento a agricultura familiar foi historicamente ignorada pela Aca- demia, polí�cas públicas, população local e demais organizações. Embora sempre exis�sse no município, a categoria foi negligenciada até meados da década de 90, quando teve início a in- trodução dos primeiros assentamentos rurais e pela criação do Programa Nacional de Fortaleci- mento da Agricultura Familiar (Pronaf). Anterior ao período, a categoria social era marginalizada perante a agricultura patronal (TROIAN; BREITENBACH, 2018). Apesar da evolução histórica no sen�do de se reconhecer e valorizar a agricultura fami- liar de Santana do Livramento, alguns aspectos di�cultam o desenvolvimento da categoria no município, destacando-se: pouca diversidade produ�va e monocul�vo; baixa interação social e convívio comunitário pela distância entre as propriedades e dos centros urbanos; di�culdade de acesso à saúde, educação, lazer; tamanho das propriedades; precárias condições das estradas; desvalorização da agricultura familiar, di�culdades de escoar a produção. Diante dessas di�cul- dades enfrentadas pela agricultura familiar de Santana do Livramento, a categoria busca for- mas e estratégias para se reproduzir e ganhar compe��vidade (TROIAN; BREITENBACH, 2018, 2020). AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 140 Considerando o contexto exposto e o ambiente polí�co e social inóspito, o presente es- tudo tem como questões norteadoras: Que estratégias os agricultores familiares assentados de Santana do Livramento u�lizam para a reprodução social? Em que as estratégias dos agri- cultores familiares assentados de Santana do Livramento se diferenciaram daquelas adotadas em outras regiões do Estado e país? Com o intuito de contribuir com o debate a respeito das estratégias de reprodução social adotadas pela agricultura familiar e minimizar a invisibilidade dos agricultores familiares assentados de Santana do Livramento, Rio Grande do Sul (RS), é que emerge o presente estudo. O obje�vo foi analisar as estratégias de reprodução social dos agri- cultores familiares assentados em Santana do Livramento/RS. ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO SOCIAL NA AGRICULTURA FAMILIAR Para a compreensão da agricultura familiar é necessário analisar sua dinâmica interna e as relações que a unidade familiar estabelece com o meio externo. Estas famílias adotam es- tratégias de reprodução social como respostas para pressões externas (ABRAMOVAY, 1992) e muitas vezes internas à própria família. Para �ns da presente pesquisa, adotou-se como referên- cia para de�nição de reprodução social os estudos de Bourdieu (1994). Segundo este autor, a reprodução social não é de�nida por normas externas aos atores sociais, a exemplo dos agricul- tores familiares, mas ocorre a par�r de estratégias que a categoria social u�liza para reproduzir sua posição no espaço social. Estas estratégias são concebidas na família e podem estar relacio- nadas à educação, matrimônio, fecundidade e pro�laxia, incluindo a própria reprodução bioló- gica. Também podem ser estratégias simbólicas, de sucessão e econômicas (BOURDIEU, 1994). As estratégias não ocorrem de forma isolada, estão correlacionadas entre si, são u�li- zadas em dis�ntos momentos e tomam como base os aspectos almejados socialmente para a reprodução social (sejam estes econômicos, de educação, matrimônio, acesso aos ?mercados?, trabalho e as regras jurídicas, etc.) e os ganhos marginais que a estratégia oferece para a fa- mília ou indivíduos (BOURDIEU, 1994). É a par�r desta compreensão que a presente pesquisa analisou as dis�ntas con�gurações u�lizadas pelos agricultores familiares para sua reprodução social, visando à con�nuidade desta categoria social. Assim sendo, as estratégias buscam a sa�sfação das necessidades dos agricultores e podem ser: produção e comercialização agropecuária e de autoconsumo, pluria�vidade, pro- gramas sociais de transferência de renda e seguridade social rural, turismo rural (SCHNEIDER, 2009), variações na intensidade de trabalho, êxodo de familiares, redução do consumo, diversi- �cação, redução ou intensi�cação da produção (LAMARCHE, 1993), entre outros. Tais estratégias de reprodução social são adotadas pelos agricultores familiares de forma consciente e racional. São resultantes das relações materiais e histórico-culturais, transmi�das entre as gerações, além das escolhas e decisões dos membros em relação às demandas familia- res ou produ�vas (SCHNEIDER, 1999). Tais estratégias obje�vam a permanência das famílias no campo, seja por meio de a�vidades agrícolas ou não agrícolas (PLEIN; SCHNEIDER, 2004). Grisa, Gazolla e Schneider (2010) iden��caram a produção de autoconsumo como uma estratégia de reprodução social, além da produção de alimentos, criação de animais, fabricação de ferramentas e confecção de insumos para o processo produ�vo da unidade familiar. Outra estratégia é a pluria�vidade, com combinação de a�vidades agrícolas e não agrícolas para com- AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 141 plementar a renda familiar. Conforme Baumel e Basso (2004), a pluria�vidade é uma prá�ca social que busca diferentes alterna�vas que garantam a reprodução das famílias de agricultores, com ampliação de fontes de renda. As polí�cas públicas brasileiras de combate à pobreza e promoção do desenvolvimento rural, aliadas às polí�cas que têm relação direta com o mundo rural, �veram incremento a par�r dos anos 2003 (MATTEI, 2014). No entanto, esse incremento sofreu fortes alterações, a par�r de 2016, com as medidas de austeridade �scal adotadas nos úl�mos governos. Neste tópico buscou-se apresentar algumas estratégias de reprodução social presentes na literatura sobre agricultura familiar, cuja diversidade e heterogeneidade possibilitam uma capacidade adapta�va às alterações climá�cas e de mercado, buscando sua reprodução social mesmo em situações adversas. Imersa na diversidade da agricultura familiar, encontra-se a agri- cultura familiar assentada, escopo da presente pesquisa. Nesses termos, a seção a seguir abor- dará especi�camente sobre a agricultura familiar assentada em Santana do Livramento. A AGRICULTURA FAMILIAR E OS ASSENTAMENTOS RURAIS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Santana do Livramento localiza-se no sudoeste do RS, região conhecida como Campanha Gaúcha, que faz parte do bioma pampa, 4 na Fronteira Oeste do RS, divisa entre Brasil e Uruguai (CAGGIANI, 1983; ALBORNOZ, 2000), como pode ser visualizado na Figura 1. Figura 1 ? Localização da Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, com destaque para Santana do Livramento/RS Fonte: Elaborado pelos autores com base em IBGE (2021). 4 Tratado também como Campos Sulinos, presente em uma área de 176,5 mil Km² (cerca de 2% do território nacional) composto principalmente por vegetação campestre como gramíneas, herbáceas e algumas espécies de árvores. No Brasil, o bioma está presente no Rio Grande do Sul, ocupa aproximadamente 63% do território gaúcho. Também encontrado na Argen�na e Uruguai (IBF, 2017). AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 142 De acordo com o Censo Agropecuário de 2017, o município possui 2.962 estabelecimen- tos agropecuários, ocupando uma área de 673.164 hectares. Destes, 1.746 , aproximadamente 58% do total, enquadram-se na dinâmica da agricultura familiar, ocupando uma área de 56.494 hectares (IBGE, 2019). A região tem terras propícias para a a�vidade agropecuária e a pecuária (ovina e bovina) é a principal a�vidade econômica do município, fornecendo carne para diversos frigorí�cos do Estado e do país, além da lã ovina, por muito tempo matéria-prima indispensável à indústria têx�l. A produção de arroz, soja e mais recentemente a vi�vinicultura e a fru�cultura merecem destaque econômico. A produção leiteira, �pica da agricultura familiar, também é uma impor- tante a�vidade econômica do município (AGUIAR, 2011; MONTEBLANCO, 2013). A vi�vinicul- tura vem acompanhada de outras a�vidades associadas, como o turismo, e tendem a trazer mudanças para a dinâmica econômica regional, com expecta�vas de contribuição para o desen- volvimento do território (SILVEIRA, 2018). A estagnação econômica brasileira do início de 1990 impulsionou o fechamento de fri- gorí�cos no município, acarretando desemprego e crise rural e urbana (ALBORNOZ, 2000). Em 1992 Santana do Livramento começou a fazer parte do mapa da reforma agrária brasileira, com a criação do seu primeiro assentamento rural. A par�r daí o município estabeleceu 30 assen- tamentos rurais do Ins�tuto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Juntos, estes assentamentos abrangem uma área total de 26.528 hectares e aproximadamente 907 famílias, com média de 29,3 hectares por família. Essa realidade faz de Santana do Livramento o municí- pio com maior número de assentamentos no Estado (INCRA, 2017). Consequentemente, trou- xe mudanças e transformações na região, com os assentamentos contrastando com grandes propriedades rurais (AGUIAR, 2011; CHELOTTI, 2013; MONTEBLANCO, 2013). Famílias vindas de diversas regiões do Estado introduziram novas formas de organização, produção, cul�vo e relações socioeconômicas diversi�cadas (AGUIAR, 2011). Somado a esse processo que dinamizou o município, nas úl�mas duas décadas também se evidencia esforços em âmbitos federal e estadual, especialmente decorrentes da Polí�ca Na- cional de Desenvolvimento Regional (PNDR), que visam a modi�car a realidade, incen�vando novos setores produ�vos e dinâmicas econômicas locais. Re�exo destas ações foi a instalação das universidades, Universidade Federal do Pampa (Unipampa), Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) e do Ins�tuto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Sul-Rio-Granden- se (Ifsul), bem como o desenvolvimento do Parque Eólico. A inicia�va privada também vem construindo alterna�vas para a diversi�cação da econo- mia. Destaca-se a evolução da vi�vinicultura, a emergência da olivicultura, busca por diferen- ciação na produção de carne em virtude de caracterís�cas do território, organização da bacia leiteira, desenvolvimento do turismo, entre outras. As ações tendem a modi�car a realidade recente do desenvolvimento (ENGELMANN, 2009). Apesar dessas inicia�vas, Aguirre e Troian (2020) apontam para a necessidade de maior atenção e reconhecimento do poder público, da Academia e da sociedade em geral para a for- mulação de polí�cas públicas que promovam a dignidade dos agricultores familiares e que for- taleçam a categorial social em Santana do Livramento, pela carência de ações em prol do setor. Faz-se urgente o reconhecimento do papel e da importância da agricultura familiar no processo de desenvolvimento local (TROIAN; BREINTENBACH, 2018,2020) AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 143 Observa-se, portanto, que o município de Santana do Livramento tem um histórico de condições desfavoráveis para o desenvolvimento da agricultura familiar. As mudanças que se iniciaram na década de 90, porém, têm ganhado força com ações do Estado e da inicia�va priva- da. Somado a isso, a categoria vem se consolidando no município e também de forma proa�va tem se organizado e buscado estratégias que promovam seu desenvolvimento. METODOLOGIA O presente estudo possui abordagem qualita�va. O método u�lizado foi o estudo de caso (YIN, 2005), a par�r das técnicas da revisão bibliográ�ca, pesquisa documental, entrevistas e observação não par�cipante. A pesquisa bibliográ�ca é elaborada a par�r de material já confec- cionado (GIL, 2008). Foram analisados livros, dissertações e ar�gos cien��cos que trataram da temá�ca. Já na pesquisa documental foram u�lizados documentos pesquisados junto ao Incra, mais precisamente a 11ª Superintendência Regional do Rio Grande do Sul, como publicações e relatórios o�ciais referentes ao início e desenvolvimento dos assentamentos, além de no�cias e reportagens de jornais e fotos do processo de instalação e informa�vos referentes ao processo de ins�tuição dos assentamentos. Na etapa de coleta de dados primários foi u�lizada a técnica da entrevista, que apresenta ques�onamentos básicos alicerçados em teorias relacionadas com o objeto da pesquisa (TRI- VIÑOS, 1987). Foram entrevistados 11 agricultores familiares assentados; as entrevistas ocor- reram nos lotes dos par�cipantes da pesquisa, nos �nais de semana, após contatos prévios por telefone. Os par�cipantes foram indicados por informantes-chave. 5 As entrevistas foram reali- zadas na casa dos agricultores, com o responsável pelo lote, entre agosto e outubro de 2018, a par�r de um roteiro semiestruturado, elaborado previamente. Para de�nir o número de entrevistas foi u�lizado o princípio da saturação, que determina que a coleta de dados deixa de ser necessária quando nenhum elemento amplia o número de signi�cados do objeto inves�gado (THIRY-CHERQUE, 2009). Ainda, u�lizou-se a técnica da ob- servação não par�cipante para obter informações e evidências que auxiliassem na elucidação dos dados coletados por meio das entrevistas. Ela foi realizada nas incursões aos assentamentos para a realização das entrevistas e consis�u no registro de informações que ocorriam a todo tempo. Destaca-se como instrumento de análise, também, as observações realizadas desde o deslocamento até os assentamentos, observando as estradas, a paisagem, os cul�vos e as cria- ções, bem como as observações durante a pesquisa nos lotes e famílias. As entrevistas veem reforçar as falas e percepções dos entrevistados. Em virtude do amplo e complexo ambiente de estudo, composto por 30 assentamentos rurais, optou-se por analisar as estratégias de reprodução social de 3 assentamentos, com base no período de instalação de cada um deles. São eles: 1) Um dos primeiros assentamentos insta- lados no município: Assentamento São Joaquim, criado em 11/11/1996, tem 1.040,10 hectares, 37 famílias assentadas e foram entrevistados 4 agricultores; 2) Um assentamento intermediá- rio? do ponto de vista do tempo de instalação ?o Assentamento Nova Madureira, criado em 5 O primeiro contato se deu por meio da intermediação de um agricultor assentado no assentamento Ibicuí, amigo do primeiro autor, que forneceu os contatos de alguns agricultores conhecidos nos três assentamentos pesquisados. AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 144 10/12/2001, tem 596,81 hectares, 24 famílias assentadas e foram entrevistados 3 agricultores; 3) Um dos úl�mos assentamentos estabelecidos no município, o Assentamento Ibicuí, criado em 20/6/2008, tem 1.374,63 hectares, 59 famílias assentadas e foram entrevistados 4 agricul- tores (INCRA, 2017). A escolha dos assentamentos deu-se considerando o período de instalação de cada um deles, pois, a par�r do tempo, as estratégias de reprodução social adotadas pelos agricultores familiares no município poderiam ser diferentes. O assentamento São Joaquim localiza-se no entorno da BR 158, entre os municípios de Santana do Livramento e Rosário do Sul e distante 65 Km do perímetro urbano do município. O assentamento Nova Madureira está inserido nas proximidades de outros cinco assentamentos, cujo acesso se dá pela BR 293, 40 Km do centro de Santana do Livramento. Já o assentamento Ibicuí localiza-se a 25 km da área urbana. O assentamento Ibicuí, ao contrário dos dois outros mencionados anteriormente, tem acesso exclusivamente por estrada de terra, com diversas pontes de madeira que apresentam péssimo estado de conservação, di�cultando o acesso. A Figura2 localiza os assentamentos existentes em Santana do Livramento, a proximidade deles com o centro urbano do município e as rodovias, fatores que podem interferir nas es- tratégias de reprodução adotadas pelas famílias assentadas. Também foram destacados na cor vermelha os três assentamentos pesquisados. Figura2? Localização dos Assentamentos Rurais de Santana do Livramento/RS Fonte: Adaptado de AGUIAR (2011). AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 145 Após a coleta de dados e transcrição das entrevistas, realizou-se a análise dos dados a par�r do método de análise de conteúdo proposto por Bardin (2011). As categorias de análise foram criadas a posteriori, a par�r do agrupamento dos discursos dos entrevistados. A triangu- lação das informações ob�das nas entrevistas, documentos e observações possibilitou a com- preensão e análise dos dados que serão apresentados a seguir. ESTRATÉGIAS DE REPRODUÇÃO SOCIAL DOS AGRICULTORES ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS A seção apresenta os resultados da pesquisa e está dividida em dois momentos: o pri- meiro que discute as caracterís�cas socioeconômica dos par�cipantes da pesquisa e o segundo que aborda as estratégias de reprodução social adotadas pelos agricultores familiares entrevis- tados. Caracterização socioeconômica dos agricultores entrevistados Os aspectos socioeconômicos dos agricultores familiares entrevistados mostram que a maioria deles são homens, 6 possuem até 42 anos, baixa escolaridade - dos 11 entrevistados, 8 têm Ensino Fundamental incompleto, casados, com famílias compostas por no máximo 6 mem- bros e oriundos majoritariamente da região norte do Estado. A baixa escolaridade dos agricul- tores entrevistados vai ao encontro do estudo de Heredia et al.(2002), que constatou que 87% dos agricultores familiares assentados no Brasil possuíam somente o Ensino Fundamental in- completo. Com relação às a�vidades agrícolas desenvolvidas pelos agricultores entrevistados, ob- serva-se uma variedade, cuja principal é a bovinocultura de leite. Nas propriedades dos en- trevistados a produção agrícola des�nada à comercialização foi classi�cada em cinco grupos, a saber: a) três lotes produzem e comercializam leite para a Cooperforte; 7 b) três lotes têm as a�vidades diversi�cadas com leite, milho, mandioca, silagem e batata-doce. Comercializam o leite e tubérculos com a Cooperforte, o milho com compradores do município de Rosário do Sul e a silagem com vizinhos; c) dois agricultores 8 produzem leite e soja, o primeiro é comercializa- do para a Cooperforte e o segundo para a Agrosoja Santana; 9 d) dois agricultores que produzem bovinos de corte, vendidos para atravessadores, vizinhos e outros produtores da região; e) um agricultor com produção e comercialização de soja para a Agrosoja. A família deixou a produção leiteira por falta de mão de obra. Os resultados encontrados nos assentamentos pesquisados assemelham-se aos dados do Estado. Conforme o Relatório Socioeconômico da Cadeia Produ�va do Leite no Rio Grande do Sul, produzido pela Emater/RS e Ascar em 2017, entre as principais di�culdades apontadas pe- 6 O contato e as entrevistas foram realizados por uma pessoa do sexo masculino (primeiro autor). Acredita-se que isso pode ter in�uenciado no fato dos respondentes, em grande maioria, serem homens. 7 Coopera�va Regional dos Assentados da Fronteira Oeste Ltda. Atua no meio agroindustrial, produz e comercializa leite para a empresa Cosulat. Atualmente possui aproximadamente 1.300 cooperados. 8 Os agricultores do grupo são irmãos, vizinhos e dividem os trabalhos na produção do leite. 9 A Agrosoja Santana, empresa que comercializa diversos produtos agrícola, com destaque para comercialização de soja, iniciou seus serviços em Santana do Livramento no ano de 2005. AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 146 los produtores gaúchos para a produção e comercialização de leite estão a ausência ou de�ci- ência de mão de obra (44,4%) e a falta de sucessores na a�vidade leiteira (38,5%) (EMATER RS; ASCAR, 2017). A escassez de mão de obra familiar jus��ca a migração do agricultor da produção leiteira para a produção de soja. O plan�o de soja na Campanha Gaúcha se relaciona com a expansão da soja transgênica no Estado e seu aumento nos assentamentos deve-se à rentabilidade e à garan�a de comer- cialização (MONTEBLANCO, 2013). Apesar da diversidade da produção agrícola presente nos lotes analisados, a produção leiteira, a exemplo do que já descrevia Chelo� (2009), é a princi- pal a�vidade econômica responsável pela renda das famílias assentadas. A produção leiteira da agricultura familiar assentada no RS está presente em mais da metade das famílias assentadas (FLECH et al., 2016). A produção leiteira de Santana do Livramento passou de 8 milhões de litros em 2004 para mais de 35 milhões no ano de 2017 (IBGE, 2017). Agricultura familiar, assentamentos e reprodução social em Santana do Livramento/RS Os agricultores assentados em Santana do Livramento u�lizam tanto estratégias tradicio- nais ligadas ao histórico da agricultura familiar, a exemplo da diversi�cação da produção, quanto estratégias mais contemporâneas, como a pluria�vidade. As a�vidades são adotadas conscien- temente pelas famílias e variam conforme o tamanho e interesse familiar, a disponibilidade de terra, necessidades, vizinhos e localização do assentamento. O Quadro1 compila as principais estratégias de reprodução adotadas pelos agricultores familiares de Santana do Livramento, o número de famílias entrevistadas que u�lizam as respec- �vas estratégias e autores e pesquisas que já observaram a estratégia em estudos anteriores. Foram iden��cadas nove dis�ntas estratégias de reprodução social, as quais foram sistema�za- das em três grupo: 1? estratégias relacionadas às a�vidades produ�vas; 2? estratégias assenta- das nas relações sociais e 3? estratégias alicerçadas no acesso às polí�cas públicas. Quadro1 ? Principais estratégias de reprodução social u�lizadas pela agricultura familiar assentada de Santana do Livramento/RS Estratégias de reprodução Famílias envolvidas Referências A�vidades produ�vas Diversi�cação 11 Chayanov (1974); Prado Junior (1979); Abramovay (1992); Lamarche (1993); Chelo� (2009); Aguiar (2011); Monteblanco (2013); Flech et al., (2016); Troian e Breitenbach (2018) Autoconsumo 11 Leite (2004); Grisa, Gazolla e Schneider (2020) Pluria�vidade 7 Graziano da Silva (1999), Ma�ei (1999); Schneider (1999, 2003) Relações Sociais Coopera�vas 10 Melo e Scopinho (2015); Flech et. al.,(2016) Parcerias 2 Bacha (2012) Lazer e diversão 9 Medeiros e Robl (2013); Flech et al., (2016) Polí�cas públicas Pronaf 9 Schneider, Ma�ei e Cazella (2004); Araújo e Vieira Filho (2018) Bolsa família 6 Silva (2014); Silva e Schneider (2015) Mercado ins�tucional 2 Grisa e Schneider (2015); Cazella et. al., (2016) Fonte: Elaboração dos autores, com base na pesquisa de campo (2018). AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 147 O primeiro grupo de estratégias compiladas foi de�nido como a�vidades produ�vas, in- cluindo a diversi�cação, autoconsumo e pluria�vidade. A diversi�cação ocorre tanto nas fontes de renda quanto na variedade de criações e cul�vos. Tal estratégia possibilita segurança diante das adversidades presentes no meio rural. É uma estratégia produ�va �pica da agricultura fa- miliar, pode ser realizada tanto para comercialização como para o autoconsumo e foi observada nos três assentamentos pesquisados e em todas as propriedades analisadas. A diversi�cação é fundamental na agricultura familiar ao impedir que a família dependa apenas de uma a�vidade para obtenção de renda, minimizando o risco de perdas decorrentes de agentes externos, como clima, pragas e oscilações no preço do produto (PLOEG, 2008; SCH- NEIDER, 2010). Também possibilita às famílias autonomia, segurança alimentar e renda, favo- recendo a melhoria no seu bem-estar (ABRAMOVAY, 1992; LAMARCHE, 1993; MATTEI, 1999; VEIGA et al., 2001). No caso analisado a diversi�cação pode ser exempli�cado a par�r da fala do agricultor, conforme segue: Aqui a gente trabalha com plantação de mandioca em quan�dade, batata-doce, um pouco de horta, cria um porco, agora vamos começar com o leite também. Temos umas onze no- vilhas. Na verdade, a gente vê o leite como um salário mensal, uma renda mais garan�da. Na verdade, o que acontece é que tu plantas, aí tu colhe, mas é aquele período apenas, passam aqueles seis meses e depois tu vai ter que achar um jeito, e com o leite pelo menos está garan�do, dê pouco ou dê bastante mas está saindo ali(Agricultor 10, Assentamento Ibicuí). Apesar da diversidade produ�va nos lotes analisados, a produção leiteira é a principal a�vidade econômica responsável pela renda das famílias. Isso aponta para uma limitação nas propriedades rurais, pois apesar de adotarem como estratégia a diversi�cação, têm as rendas alicerçadas basicamente em uma a�vidade comercial. A diversi�cação está relacionada, neste caso, com a diversidade de produtos para o autoconsumo. A produção para autoconsumo também é uma importante estratégia de reprodução so- cial da agricultura familiar e está presente nos três assentamentos pesquisados. Autoconsumo é a parcela da produção agropecuária des�nada ao consumo da família, alimentação animal e para outros usos na a�vidade produ�va (LEITE, 2004). A produção para o autoconsumo tam- bém é diversi�cada, com produção de hortaliças, frutas, tubérculos, milho, produtos de origem animal como ovos e carnes, entre outros. Ela possibilita que os agricultores economizem, redu- zindo a aquisição de produtos alimen�cios e insumos produ�vos fora da propriedade, gerando maior autonomia. O excedente da produção para autoconsumo, em algumas famílias, pode ser comercializado, dependendo da necessidade e oportunidades de mercado, conforme destaca o entrevistado a seguir. É que teu gasto é o mínimo, né, por causa que tu estando morando aqui, tu podes produzir o alimento, né, um produto saudável e reduz os gastos. Tu podendo fazer uma horta tu tens a verdura e é uma meia mesa, né, produz a batata, a mandioca, cria um porco, a galinha, já tem a carne, né, o leite, então 60% do alimento já está reduzido, né, essa é a vantagem que eu vejo. Tu podes trabalhar para �, não tem horário nem nada. Tendo teu negócio em casa tu és o teu próprio patrão mesmo (Agricultor 8, Assentamento Ibicuí). Além de conferir autonomia e segurança alimentar, a produção para autoconsumo gera renda não monetária, possibilitando que as famílias economizem recursos �nanceiros, muitas vezes escassos, na aquisição de alimentos nos mercados urbanos, con�gurando-se como uma AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 148 estratégia de diversi�cação dos meios de vida. Desta forma, contribui com a estabilidade econô- mica das famílias rurais (GRISA;GAZOLLA;SCHNEIDER, 2010). A diversidade observada na agricultura familiar não se dá exclusivamente nas a�vidades agrícolas, mas também naquelas não agrícolas (GRAZIANO DA SILVA, 1999). Para a agricultura familiar assentada de Santana do Livramento não é diferente, posto que tem a pluria�vidade como estratégia de reprodução. Sete famílias são pluria�vas, tendo algum integrante que exer- ce a�vidades, em tempo parcial (part �me) ou total (full �me) fora do lote. Os assentados pesquisados exercem a�vidades como motorista, costureira, agente de saúde, técnico agrícola, trabalhos em restaurante, alambrador, entre outros, conforme exem- pli�cado na fala da agricultora a seguir. ?O meu marido é técnico agrícola, mas hoje ele está desempregado. Ele faz alguns projetos de solo agora, e eu sou agente de saúde e trabalho aqui nos dois assentamentos, trabalho de casa em casa e conheço todo mundo? (Agricultora 1, As- sentamento São Joaquim). O que leva esses agricultores a procurar outras a�vidades que geram renda, tornando-se pluria�vos, é a insu�ciência dos recursos �nanceiros ob�dos por meio das a�vidades agrícolas, a busca por melhor qualidade de vida para si e familiares, incertezas climá- �cas e de produção, aliadas à falta de assistência técnica, distância do meio urbano. A pluria�vidade está mais presente nos Assentamentos São Joaquim e Ibicuí e menos evi- dente no Assentamento Nova Madureira. Tais descobertas vão ao encontro do que observaram Graziano da Silva (1996), Ma�ei (1999), Schneider (1999), Veiga et al. (2001), para os quais o meio rural não é sinônimo de produção agrícola. As a�vidades não agrícolas, além de comple- mentarem a renda familiar, auxiliam na produção agrícola, �nanciando cul�vos, melhorias no lote e nas condições de trabalho dos agricultores. Outro grupo de estratégias foi formado pelas relações sociais, incluindo par�cipação em coopera�vas, parcerias entre agricultores, lazer e diversão. A estratégia relacionada à par�cipa- ção em associação e coopera�vas foi destacada por dez entrevistados. De modo análogo ao que destacaram Melo e Scopinho (2015), ocorre par�cipação dos agricultores familiares assenta- dos de Livramento na Cooperforte. O coopera�vismo, neste caso, proporciona aos agricultores sen�mento de pertencimento a um grupo maior, possibilidade de comercialização da produção leiteira e compra parcelada de insumos para as produções. A cons�tuição da Cooperforte ocorreu após a instalação dos assentamentos no municí- pio, conferindo aos agricultores um sen�do de propriedade cole�va da coopera�va. Um dos agricultores entrevistados destaca a importância e a responsabilidade da en�dade para a co- lheita, escoamento e armazenamento da produção: A lavoura tem uma desvantagem, é que se o cara não colher no tempo certo apodrece, daí tem que colher e guardar bem, senão acaba perdendo. Para isso a coopera�va é importante. A mesma coisa é o leite. Se o caminhão parar um ou dois dias, estraga o leite, e assim é a respon- sabilidade deles, se colaborar tudo vai bem né (Agricultor 5, Assentamento Nova Madureira). Outra estratégia iden��cada foi as parcerias entre as famílias pesquisadas, produzindo conjuntamente leite e soja e dividindo igualmente o trabalho com essas a�vidades. As parcerias melhoram as condições de vida das famílias, o�mizando e adequando a mão de obra disponi- bilizada. Autores como Castro (2005) e Mello (2006), entretanto, relatam que é comum ocorre- rem desentendimentos entre os agricultores assentados, quase sempre relacionados à forma de trabalhar ou ao desmembramento de grupos cole�vos de produção. As brigas e desentendi- AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 149 mentos entre os assentados muitas vezes são ocasionadas por discussões acaloradas em reuni- ões delibera�vas do assentamento ou em assembleias da associação dos assentados. Outra estratégia de reprodução social iden��cada na agricultura familiar santanense são as a�vidades de lazer e diversão no espaço rural, apontada por nove entrevistados. Os agricul- tores pra�cam a�vidades religiosas, espor�vas e sociais, como bailes e festas nas comunidades rurais, con�gurando-se em momentos de conversas, interação, descontração e reencontros. A exemplo do que informa um dos agricultores entrevistados: ?Aqui mais é o jogo de futebol e tem a comunidade também que acontecem festas, agora mesmo estão planejando baile? (Agri- cultora 1, Assentamento São Joaquim). A estratégia, além de ser indispensável para a reprodu- ção social das famílias, confere melhoria na sua qualidade de vida . Por �m, o acesso às polí�cas públicas é a terceira categoria de estratégias e inclui o aces- so ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), ao Bolsa Família e à comercialização de produtos a par�r do mercado ins�tucional. Acessar crédito rural federal a par�r do Pronaf foi apontado por nove entrevistados como uma estratégia de reprodução social. A exemplo do que atesta um dos agricultores, o crédito é u�lizado para inves�mentos e melhorias no lote: ?Adquirimos o Pronaf para aquisição de vacas leiteiras, ampliação do galpão e melhoramento da infraestrutura? (Agricultor 8, Assentamento Ibicuí). Parte dos agricultores entrevistados, entretanto, possuem dívidas e �cam impossibilita- dos de conseguir novos �nanciamentos para custeio da produção ou inves�mentos para a pro- priedade rural. Os agricultores a�rmam que a falta de acompanhamento técnico durante a exe- cução dos projetos de �nanciamento colaborou para a inadimplência. Targino e Couto (2007), ao estudarem 20 Projetos de Assentamento (PAs) na Zona da Mata Paraibana, concluíram que quase todos os trabalhadores estavam endividados, cons�tuindo uma situação preocupante para a maioria deles. Os autores iden��caram a necessidade de fortalecer a estrutura produ�va dos assentamentos e mudanças na polí�ca de crédito. Já nos casos de renda insu�ciente para a sobrevivência familiar, o Programa Bolsa Família (PBF) con�gura-se como uma estratégia de reprodução social na agricultura familiar em análise, conferindo renda e maior autonomia às famílias. O programa é um dos principais responsáveis pelo aumento da frequência escolar dos estudantes bene�ciários e pelo acompanhamento mé- dico das crianças e mães bene�ciárias (SILVA, 2014). A presença do PBF foi veri�cada em seis famílias entrevistadas, quatro delas residentes no Assentamento Ibicuí. Os agricultores desse assentamento possuem as piores condições de estrada e receberam assistência técnica por me- nor tempo, se comparado aos demais assentamentos. Esses elementos podem estar ligados ao maior número de famílias fazendo uso do PBF. Das famílias assentadas no RS, 42% são bene�ciárias do PBF (FLECH et al., 2016) e no Bra- sil 31,5 % das famílias (CAZELLA et al., 2016). Um agricultor entrevistados relatou a importância do PBF para a aquisição de alimentos para consumo familiar: ?A família recebe em torno de R$ 117,00 por mês, mal ou bem dá para nós comprarmos um arroz com feijão. A questão da escola das crianças, roupas e calçados eu tenho que trabalhar fora para poder dar assistência, e mes- mo assim às vezes não consigo? (Agricultor 11, Assentamento Ibicuí). Outra estratégia relacionada às polí�cas públicas é a comercialização de produtos nos mercados ins�tucionais. Nesses, con�guração especí�ca de mercado, as redes de troca têm estrutura par�cular, predeterminada por normas de�nidas por um conjunto de atores e orga- AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 150 nizações que conferem ao Estado o papel principal, por meio das compras públicas (GRISA;- GAZOLLA;SCHNEIDER, 2010). A presente pesquisa constatou baixa adesão dos agricultores familiares assentados ao mercado ins�tucional. Embora estes conheçam os programas que compõem os mercados ins�tucionais (PAA? Programa de Aquisição de Alimentos e PNAE? Pro- grama Nacional de Alimentação Escolar), apenas dois os acessam. Similar ao que observaram Cazella et al.(2016), parcela importante da agricultura familiar do presente estudo está distante dos programas tradicionais de apoio fornecidos pelo Estado. Os agricultores que comercializam por intermédio do mercado ins�tucional apresentam discursos entusiasmados com relação à comercialização diretamente para o poder público, ven- dendo leite, frutas, entre outros. ?Sim, eu faço parte sempre aqui na Cooperforte, sempre en- trego para o PAA. Eu pego ou milho verde, ou batata, ou mandioca, ou hor�fru�, eu entrego bastante. Sempre produzo bastante e entrego? (Agricultor 4, Assentamento São Joaquim). A demora no recebimento do pagamento é o principal fator apontado pelos agricultores entrevistados para descon�nuar a comercialização nos mercados ins�tucionais. Assim, neces- sitam buscar outros compradores para seus produtos e nem sempre conseguem obter melhor lucra�vidade em virtude dos custos de escoamento da produção. Além de di�cultar a obtenção de renda pelas famílias, o fato de não acessarem os mercados ins�tucionais acaba inviabilizan- do importantes programas pensados e criados para auxiliar o agricultor familiar. As estratégias de reprodução social dos assentados de Santana do Livramento reforçam a diversidade e a heterogeneidade da agricultura familiar. O estudo aponta que, embora sejam categorizados como assentados, as condições das famílias são dis�ntas entre si. Enquanto há famílias capitalizadas, integradas aos mercados, existem aquelas empobrecidas e dependentes do Estado, de polí�cas de transferência de renda, por exemplo. A par�r das estratégias de reprodução social observadas na pesquisa, pode-se inferir que a agricultura familiar assentada, embora em um contexto adverso, em meio as grandes exten- sões de terra, criação extensiva de gado e ao monocul�vo de soja, adota estratégias que não diferem das seguidas por agricultores familiares em outros contextos e realidades ou quando comparado ao que vem sendo iden��cado na literatura. Ou seja, o estudo não constatou ne- nhuma estratégia inovadora ou diferenciada das conhecidas e estudadas. Podemos inferir que essas diferenças nas estratégias adotadas entre os agricultores, bem como o conservadorismo de estratégias podem ser ocasionadas por: a) origem das famílias de agricultores e as tradições produ�vas familiares, as quais interferem nas a�vidades produ�vas com as quais os agricultores se iden��cam e têm maior curva de experiência; b) o tamanho e a disposição da área de terra dos assentados, que pode favorecer umas a�vidades e inviabilizar outras; c) a distância do centro urbano e a precariedade das estradas pode di�cultar a comer- cialização de produtos, a exemplo da entrega de alimentos para mercados ins�tucionais, bem como es�mular que seja priorizada a produção de mais fácil escoamento, como soja e leite. CONSIDERAÇÕES FINAIS A diversidade e a heterogeneidade da agricultura familiar implicam dis�ntas estratégias de reprodução social. As estratégias adotadas pelos agricultores familiares assentados de Santa- na do Livramento, embora com a par�cularidade de a região ser tradicional na produção pecuá- ria em grades propriedade, não diferem do que a literatura vem abordando. AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 151 As estratégias dos agricultores tendem a não diferir em virtude do assentamento em que cada família vive, seja ele criado nos anos 1990 ou nos anos 2010, mas em virtude das circuns- tâncias de vida, conhecimentos pessoais, expecta�vas futuras, tamanho das famílias, recursos disponíveis, capital intelectual, entre outros. O assentamento mais recente e o mais an�go con- centram o maior número de agricultores entrevistados pluria�vos e o assentamento Nova Ma- dureira possui o maior número de agricultores monoa�vos. Ou seja, na presente pesquisa não foi o tempo de estabelecimento no assentamento que de�niu a estratégia de reprodução social das famílias, mas as condições de cada assentamento, como a distância do perímetro urbano e as di�culdades de escoar a produção. A pluria�vidade, considerando as a�vidades agrícolas e não agrícolas, no caso pesquisado é u�lizada para complementar a renda dos assentados. Existem evidências de que ela seja reali- zada por famílias mais jovens, com mais informações e facilidades de deslocamento. A pesquisa iden��cou também que não são apenas as a�vidades geradoras de renda as responsáveis pela reprodução social das famílias, mas também as relações sociais, culturais, históricas e com a terra. O fato de os entrevistados possuírem vínculo com o campo, aliado à convivência amistosa entre as famílias, demonstra o espírito de pertencimento ao meio rural desses agricultores, tra- zendo uma nova dinâmica ao meio rural santanense, gerando renda, novos hábitos, demandas e relações sociais no município. Os agricultores veem no lote, além da sua morada, a oportunidade de vivenciar a relação histórica com o meio rural, a tranquilidade que a vida no campo proporciona, entre outros fato- res que contribuem para uma melhor qualidade de vida percebida pelas famílias. A melhoria na qualidade de vida dos agricultores possibilita que estes aumentem sua par�cipação na econo- mia local, conforme veri�cou-se com a comercialização do leite. Por outro lado, cabe destacar a presença da pobreza nos assentamentos rurais locais e a elevada porcentagem de famílias dependentes das polí�cas de transferência de renda. É necessário mais atenção do Estado para os agricultores familiares assentados. É inex- plicável que um município com mais de 900 famílias assentadas, que produzem e dinamizam a economia local, não tenha manutenção e�ciente das estradas rurais, por exemplo. Por �m, aponta-se para a necessidade de novos estudos sobre a relação dos assentamentos com o de- senvolvimento rural, principalmente após as recentes alterações na legislação, que possibilitam aos agricultores assentados a �tularidade da terra, rompendo relações com o Ins�tuto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, podendo inclusive comercializar o lote. REFERÊNCIAS ABRAMOVAY, R. De camponeses a agricultores: paradigmas do capitalismo agrário em questão. São Pau- lo: Hucitec;Ed. Unicamp, 1992. AGUIAR, J. S. Uso da terra, técnica e territorialidade: os assentamentos de Santana do Livramento, RS. 2011. Dissertação (Mestrado em Geogra�a) ?Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. AGUIRRE, M. L. C.; TROIAN, A. A agricultura familiar de Santana do Livramento/RS: análise do Censo Agro - pecuário de 2017. Agropampa: Revista de Gestão do Agronegócio,Dom Pedrito, RS, v. 2, n. 2, ed. especial, p. 21 - 25, 2020. ALBORNOZ, V. P. L. Fronteira gaúcha: Santana do Livramento. Caderno de História: Memorial do Rio Gran- de do Sul. Porto Alegre: Secretaria de Estado da Cultura;Governo do Estado do Rio Grande do Sul, 2000. AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 152 ARAÚJO J. A.; VIEIRA FILHO. E. R. Análise dos impactos do PRONAF na agricultura do Brasil no período de 2007 a 2016. Texto para discussão. Brasília; Rio de Janeiro:Ins�tuto de Pesquisa Econômica Aplicada,Ipea, 2018. BACHA, C. J. Economia e polí�ca agrícola no Brasil. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2012. BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. BAUMEL, A.; BASSO, L. C. Agricultura familiar e a sustentabilidade da pequena propriedade rural. In: CA- MARGO, G.; CAMARGO FILHO, M.; FÁVARO, J. L. (org.). Experiências em desenvolvimento sustentável e agricultura familiar. Guarapuava, PR: Ed. Unicentro, 2004. BOURDIEU, P. Stratégies de reproduc�on et modes de domina�on. Actes de la Recherche en Sciences So- ciales, Paris, n. 105, p. 253-267, dez. 1994. CAGGIANI, I. Sant?Ana do Livramento: 150 anos de história.Sant?Ana do Livramento, Aspes, 1983. I Vol. CASTRO, E. G. de. Entre �car e sair: uma etnogra�a da construção da categoria jovem rural. 2005. Tese (Doutorado em Antropologia Social) ?Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: UFRJ, 2005. CAZELLA, A. A. et al. Polí�cas públicas de desenvolvimento rural no Brasil: o dilema entre inclusão produ- �va e assistência social. Polí�ca & Sociedade, Florianópolis v. 15, p. 49-79, 2016. CHAYANOV, A. La organización de la unidad económica campesina. Buenos Aires: Nueva Visión, 1974. CHELOTTI, M. C. A estância metamorfoseou-se: (re)con�gurações territoriais e expressões da reterritoria - lização camponesa na Campanha Gaúcha. (1990-2007). 2009Tese( Doutorado em Geogra�a) ?Universida- de Federal de Uberlândia, Uberlândia, MG, 2009. CHELOTTI, M. C. A dinâmica territorialização-desterritorialização-reterritorialização em áreas da reforma agrária na campanha gaúcha. Campo-território: Revista de Geogra�a, Uberlândia, MG, v. 8, n. 15, p. 1-25, 2013. EMATER RS; ASCAR. Relatório socioeconômico da cadeia produ�va do leite no Rio Grande do Sul: 2017. Porto Alegre, RS,2017. ENGELMANN, D. Da estância ao parreiral: um estudo de caso sobre a vi�vinicultura em Santana do Li- vramento. 2009. Dissertação (Mestrado em Administração) ?Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2009. FLECH, E. M. et al. O retrato das famílias assentadas do Rio Grande do Sul a par�r do sistema integrado de gestão Rural da ATES. In: SIMPÓSIO DE REFORMA AGRÁRIA E QUESTÕES RURAIS, 7., 2016. Araraquara. Anais [...].Araraquara, Uniara, 2016. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008. GRAZIANO DA SILVA, J. O novo rural brasileiro. Campinas:Unicamp;Ins�tuto de Economia, 1999. GRAZIANO DA SILVA, J. Por uma reforma agrária não essencialmente agrícola. Revista Agroanalysis, Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, p. 8-11, mar. 1996. GRISA, C.; GAZOLLA, M.; SCHNEIDER, S. Uma produção invisível na agricultura familiar: autoconsumo, alimentação segurança e polí�cas públicas de desenvolvimento rural. Agroalimentar, Mérida, v. 16, n. 31, 2010. GRISA, C.; SCHNEIDER, S. (org.). Polí�cas públicas de desenvolvimento rural no Brasil. Porto Alegre: UFR- GS, 2015. LEITE, S. P.Autoconsumo y sustentabilidad en la agricultura familiar: una aproximación a la experiencia brasileña . In: BELIK, W. (org.).Polí�cas de seguridad alimentaria y nutrición en América La�na, São Paulo: Hucitec, 2004. p. 123-181 . HEREDIA, B. et al. Análise dos impactos regionais da reforma agrária no Brasil. In: Estudos, Sociedade e Agricultura, Seropédica, RJ, n. 18, p. 73-111, abr.2002. IBGE.Ins�tuto Brasileiro de Geogra�a e Esta�s�ca. Censo Agropecuário 2017: resultados de�ni�vos. Rio de Janeiro, v. 8, p. 1-105, 2019. Disponível em: h�ps://sidra.ibge.gov.br/pesquisa/censo-agropecuario/ censo-agropecuario-2017.Acesso em: 23 out. 2020. IBGE.Ins�tuto Brasileiro de Geogra�a e Esta�s�ca. Portal de Mapas do IBGE. Disponível em: h�ps://por- taldemapas.ibge.gov.br/portal.php#homepage. Acesso em: 10 maio2021. IBF. Ins�tuto Brasileiro de Florestas . Bioma Pampa. 2017. Disponível em:h�ps://www.ib�orestas.org.br/ bioma-pampa.html . Acesso em: 18 out. 2019. INCRA. Ins�tuto Nacional de Colonização e Reforma Agrária . 2017. Disponível em:h�ps://www.incra.gov. br . Acesso em:7 dez. 2017. LAMARCHE, H. (coord.). A agricultura familiar: comparação internacional.Uma realidade mul�forme. Campinas: Editora da Unicamp, 1993. Vol. I. AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 153 MATTEI, L. F. Pluria�vidade e desenvolvimento rural no Estado de Santa Catarina. 1999. Tese (Doutorado em Economia) ?Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 1999. MATTEI, L. F. O papel e a importância da agricultura familiar no desenvolvimento rural brasileiro contem - porâneo. Revista Econô mica do Nordeste, Fortaleza, v. 45, p. 71-79, 2014. MEDEIROS, L. S. Reforma agrária no Brasil: história e atualidade da luta pela terra. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2003. MEDEIROS, R. M., ROBL, D. M. Educação rural, saberes e desenvolvimento local. In: MEDEIROS, R. M. V.; FALCADE, I. (org.). Expressões da Re-territorialização do Campo Brasileiro. Porto Alegre: Imprensa Livre, 2013. MELLO, P. F. Evasão e rota�vidade em assentamentos rurais no Rio Grande do Sul. 2006. Dissertação(Mes- trado em Desenvolvimento Rural) ?Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2006. MELO, T. G.; SCOPINHO, R. A. Par�cipação em coopera�vas de assentamentos rurais: estudo sobre os sen�dos do trabalho. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 20, n. 4, p. 529-541, 2015. MONTEBLANCO, F. L. O espaço rural em questão: formação e dinâmica da grande propriedade e dos as- sentamentos da reforma agrária em Santana do Livramento/RS. 2013. Dissertação(Mestrado em Geogra- �a) ?Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre: UFRGS, 2013. PLEIN, C.; SCHNEIDER, S. Agricultura familiar e estratégias de reprodução: o caso do município de Iporã d? Oeste, Santa Catarina. Revista Faz Ciência, Francisco Beltrão, PR, p. 231-254, 2004. PLOEG, J. D. V. Camponeses e impérios alimentares: lutas por autonomia e sustentabilidade na era da glo- balização. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2008. PRADO JUNIOR, C. A questão agrária. 4. ed. São Paulo:Brasiliense, 1979. SCHNEIDER, S. Agricultura familiar e pluria�vidade. 1999. Tese (Doutorado em Sociologia Rural) ?Univer- sidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999. SCHNEIDER, S. Agricultura familiar e industrialização: pluria�vidade e descentralização industrial no Rio Grande do Sul. 2 . ed. Porto Alegre: UFRGS, 2004. SCHNEIDER, S. A diversidade da agricultura familiar. Porto Alegre: UFRGS Editora, 2009. SCHNEIDER, S. Situando o desenvolvimento rural no Brasil: o contexto e as questões em debate. Revista de Economia Polí�ca, São Paulo, v. 30, n. 3, set. 2010. SCHNEIDER, S. Teoria social, agricultura familiar e pluria�vidade. Revista Brasileira de Ciências Sociais, São Paulo, n. 51, v. 18, p. 99-122, 2003. SCHNEIDER, S.; MATTEI, L.; CAZELLA, A. Histórico, caracterização e dinâmica recente do Pronaf ? Progra - ma Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. In: SCHNEIDER, S.;SILVA, M. K.;MARQUES, P. E. M. (org.). Polí�cas públicas e par�cipação social no Brasil rural. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2004. SILVA, C. B. C. O programa Bolsa Família no meio rural: um caminho ao desenvolvimento do Rio Grande do Sul?2014. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Rural) ?Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2014. SILVA, C. B. C.;SCHNEIDER, S. Pobreza rural e o Programa Bolsa Família ? desa�os para o desenvolvimento rural no Brasil / 443. In: GRISA, C.; SCHNEIDER, S. (org.). Polí�cas Públicas de desenvolvimento rural no Brasil. Porto Alegre: UFRGS, 2015. SILVEIRA, M. B. Marke�ng de lugares como promotor do desenvolvimento territorial: análise nas empre- sas vinícolas da região da Campanha Gaúcha. 2018. Dissertação (Mestrado em Administração) ?Universi- dade Federal do Pampa, Santana do Livramento, RS, 2018. TARGINO, I.; COUTO, A. I. Polí�ca de crédito e endividamento de trabalhadores assentados: o caso da zona da mata paraibana. Revista Emancipação, v. 7, n. 1, p. 135-164, 2007. Disponível em: h�ps://revis- tas.apps.uepg.br/index.php/emancipacao/ar�cle/view/90/88. Acesso em:2 jun. 2020. THIRY-CHERQUE, H. R. Saturação em pesquisa qualita�va: es�ma�va empírica de dimensionamento. Re- vista Brasileira de Pesquisa em Marke�ng, Opinião e Mídia, São Paulo, p. 20-26, 2009. TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualita�va em educação. São Paulo: Atlas, 1987. TROIAN, A.; BREITENBACH, R. Estratégias e formas de reprodução social na agricultura familiar da frontei - ra oeste do Rio Grande do Sul. Novos Cadernos NAEA, Belém, v. 21, p. 1-15, 2018. TROIAN, A.; BREITENBACH, R. O Programa Nacional de Alimentação Escolar em Santana do Livramento (RS): desa�os para a adequação à Lei dos 30%. Redes, Santa Cruz do Sul, v. 25, p. 171-190, 2020. VEIGA, J. E. daet al.O Brasil rural precisa de uma estratégia de desenvolvimento. Brasília: Convênio Fipe ? IICA (MDA/CNDRS/ NEAD), 2001. AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 154 WANDERLEY, M. N. Agricultura familiar e campesinato: rupturas e con�nuidade.Estudos Sociedade e Agri- cultura, Rio de Janeiro, edição v. 11, n. 2, Seção n. 21, p. 42-61, out.2003. YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman, 2005. AGRICULTURA FAMILIAR E REPRODUÇÃO SOCIAL: ESTRATÉGIAS DOS ASSENTADOS DE SANTANA DO LIVRAMENTO/RS Jeferson da Luz Ferron ? Alessandra Troian ? Raquel Breitenbach Desenvolvimento em Questão Editora Unijuí ? ISSN 2237-6453 ? Ano 19 ? n. 57 ? out./dez. ? 2021 Página 155 APÊNDICE1 Caracterização socioeconômica dos agricultores familiares assentados entrevistados Entrevistado Idade (anos) SexoEscolaridade Estado civil Assentamento Tempo no assentamento Núcleo familiar Naturalidade Área A�vidades desenvolvidas Agricultora 1 55 Fem. Ensino MédioCasadaSão Joaquim 21 anos3 pessoas Ronda Alta/RS.28 ha Leite, milho, hor�fru�, aves, suínos. Agricultor 249Masc. Fundamental incompleto SolteiroSão Joaquim 21 anos3 pessoasEngenho Velho/RS.22 ha Soja. Agricultor 340Masc. Ensino Médio incompleto Casado São Joaquim 21 anos 6 pessoas Palmeira das Missões/RS. 27 ha Bovinos de corte. Agricultor 4 49Masc. Fundamental Incompleto SolteiroSão Joaquim 21 anos 4 pessoas Constan�na/RS. 27 haLeite, milho, mandioca. Agricultor 5 39Masc. Fundamental Incompleto Casado Nova Madureira 16 anos 4 pessoas Constan�na/RS. 21 ha Leite, milho, feijão, mandioca, hortaliças. Agricultor 6 38Masc. Fundamental incompleto Casado Nova Madureira 14 anos 4 pessoas Três Palmeiras/RS.22 ha Leite e soja. Agricultor 7 36Masc.Ensino médioCasado Nova Madureira 14 anos 5 pessoas Três Palmeiras/RS.22 ha Leite e soja. Agricultor 8 37Masc. Fundamental Incompleto CasadoIbicuí 12 anos3 pessoas Santana do Livramento/RS. 18 ha Leite, mandioca, batata, ovo, doce de leite e outros. Agricultor 9 42Masc. Fundamental Incompleto CasadoIbicuí 1 ano3 pessoasTupanciretã/RS. 18 ha Leite, mandioca, batata. Agricultor 10 38Masc. Fundamental Incompleto CasadoIbicuí 5 anos2 pessoasConstan�na/RS. 22 ha Mandioca, batata, suíno, hortaliças. Agricultor 11 42Masc. Fundamental Incompleto CasadoIbicuí 11 anos 5 pessoas Santana do Livramento/RS. 21 ha Bovinos de corte. Fonte: Elaboração própria com base na pesquisa de campo (2018).