© PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. ISSN 1695?7121 Vol. 20 N. o 2. Págs. 465-480. abril-junio 2022 https://doi.org/10.25145/j.pasos.2022.20.033www .pasosonline.org Resumo: Este estudo teve como objetivo analisar as estratégias turísticas desenvolvidas pelos proprietários da Estância da Glória e da Fazenda Palomas, pioneiras em turismo rural no município de Santana do Livramento/Brasil. Utilizou­ ?se abordagem qualitativa, empregando os métodos comparativo e estudo de caso, com dados coletados mediante entrevistas, observação e registros fotográficos, submetidos a análises de conteúdo categorial e interpretativa. Os resultados indicam que estratégias utilizando recursos naturais, culturais e históricos têm sido desenvolvidas com a finalidade de explorar as potencialidades das propriedades adequando sua oferta de atividades turísticas à demanda de seu segmento de mercado. Entretanto, observou­ ?se potencial turístico a ser mais bem desenvolvido. Para os proprietários, empreender no turismo rural está vinculado à inovação, à possibilidade de integração com as atividades agropecuárias, geração de renda complementar, preservação dos recursos naturais, conservação do patrimônio histórico e cultural e integração dos visitantes com a cultura e a história local/regional. Palavras­?chave: Turismo rural; Recursos naturais, históricos e culturais; Estratégias turísticas; Nicho de mercado; Região do Pampa Gaúcho; Diferenciação. Natural and historical­?cultural resources as strategic elements in rural tourism in Santana do Livramento, RS/Brazil Abstract: This study is aimed at analysing the tourism strategies adopted by the owners of Estância da Glória and Fazenda Palomas, true pioneers of rural tourism in the municipality of Santana do Livramento, Brazil using comparative case studies and qualitative content analysis of interviews, observation and photographic records. The results showed that natural, cultural and historical resources have been used in creative interpretations to explore the potential of the properties, adapting their offer of tourist activities to the demand of their market seg? ment. It also showed that there was room for improvement. For the owners, entrepreneurship in rural tourism is linked to innovation, to the possibility of integrating tourism with agricultural activities, to generate complemen? tary income, preserve their natural resources, conserve their historical and cultural heritage and produce a sense of belonging and identification of the visitors with local/regional culture and history. Keywords: Rural tourism; Natural, Historical and Cultural Resources; Tourism Strategies; Market niche; Pampas region; Differentiation. Recursos naturais e histórico­ ?culturais como elementos estratégicos no turismo rural em Santana do Livramento­ ?RS/Brasil Marcos Vinicius Dalagostini Bidarte* Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil) Camila dos Santos Pinto** Universidade Federal do Pampa (Brasil) Marcos Vinicius Dalagostini Bidarte, Camila dos Santos Pinto * Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Brasil); E­ ?mail: bidarte.vinicius@gmail.com; https://orcid.org/0000­ ?0002­?5545­?3969 ** Universidade Federal do Pampa (Brasil); E­ ?mail: camilapinto04@gmail.com; https://orcid.org/0000­ ?0001­ ?5078­ ?469X 1. Introdução Ao longo do século XX distintas realidades do meio rural puderam ser observadas em diversos países. Discussões mundiais surgiram para pensar o rural, resultando em diversas abordagens teóricas. Com o chamado novo ruralismo, o meio rural passou a ser visto para além da produção e da agricultura, PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 466 Recursos naturais e histórico­ ?culturais como elementos estratégicos no turismo rural sendo reconhecido para novos papéis, como prática de atividades não agrícolas, fonte diversificadora de renda, atividade turística, entre outras (Hervieu, 1996). No Brasil, o meio rural vem passando por grandes transformações nas últimas décadas. Nos anos 1980, mudanças e dificuldades econômicas ocorreram no setor agropecuário, fazendo com que alguns proprietários rurais diversificassem suas atividades. A alternativa encontrada por eles foi abrir as porteiras das propriedades para receber os turistas que gostariam de conhecer e vivenciar o dia­ ?a­?dia na fazenda. Porém, na década seguinte, novas percepções sobre o meio rural começaram a ganhar força e visibilidade no país, sendo o turismo rural uma delas. Essa atividade turística atraiu a atenção dos proprietários, fazendo o segmento crescer significativamente nas diferentes regiões brasileiras. Posteriormente, como forma de orientar tal atividade, foram desenvolvidas políticas públicas contendo ações e projetos específicos para o segmento de turismo rural (MTur, 2004, 2010). O turismo rural, segundo a definição oficial do Ministério do Turismo do Brasil (MTur), é ?o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade? (MTur, 2010, p. 18). De fato, trata­ ?se de um conceito abrangente, diverso e, de certa forma, impreciso. No entanto, o turismo rural brasileiro pode ser visto como uma atividade que possibilita ao turista participar ativamente no processo de produção agrícola e no processamento de alimentos, na vida de uma família rural e na comunidade local; aprender sobre o modo de vida, os costumes e a cultura das famílias rurais; e ter contato direto com a natureza. O turismo rural vem sendo valorizado e estimulado pelo Ministério do Turismo do Brasil como uma forma de empreendedorismo rural. O proprietário transformou­ ?se em gestor, empreendedor rural, e a propriedade assumiu a classificação de empresa prestadora de serviços turísticos. Com isso, o proprietário deve criar estratégias de lazer e de turismo na propriedade que atraiam visitantes e também o olhar do poder público, esse último como forma de apoiar e incentivar o turismo rural local. De fato, o turismo rural pode agregar valor aos produtos das propriedades, gerar renda complementar ao proprietário, preservar e conservar o patrimônio natural, cultural e histórico, desenvolver as bases locais, valorizar a cultura e o regionalismo e integrar o visitante com a história local (Azevedo, & Rodrigues, 2015; Blanco, 2004; Caliari et al., 2016; Cipolat et al., 2019; Cipolat, & Bidarte, 2022; Dias, 2003; Machado, 2005). O turismo rural desperta o interesse dos visitantes dos grandes centros urbanos e municípios vizinhos ao apresentar o estilo de vida rural, o modo de produção, a cultura do campo, os costumes tradicionais das famílias rurais e ainda por resgatar e valorizar as possibilidades do compartilhamento de tradições culturais e gastronômicas. Neste sentido, uma das estratégias que podem ser adotadas pelos proprietários é o turismo rural mais acolhedor e pessoal, em que ?o turista convive e se relaciona diretamente com as rotinas diárias das famílias rurais, aprendendo, na prática, suas tradições, hábitos e costumes? (Blanco, 2004, p. 45; Cipolat et al., 2019; Cipolat, & Bidarte, 2022). Essa forma de turismo resgata a autoestima do homem do campo e valoriza a identidade da cultura rural local. Com efeito, em vários municípios brasileiros proprietários e famílias rurais têm buscado no turismo rural a diversificação das atividades econômicas desenvolvidas em suas propriedades, com o propósito de maior estabilidade econômica e melhoria nas condições de vida sem que se desvinculem das atividades já desenvolvidas. Nesses casos, há a oferta de experiências múltiplas, o que enriquece as visitas realizadas e a interação com o patrimônio cultural e ambiental ali presente. Alguns dos municípios onde esse movimento se verifica são Apodi­ ?RN (Azevedo, & Rodrigues, 2015), Bento Gonçalves, Garibaldi e Monte Belo do Sul­ ?RS (Marques, & Santos, 2014), Blumenau­ ?SC (Reis, & Vavassori, 2013), Castrolanda, Entre Rios e Witmarsum­ ?PR (Soares et al., 2017), Dois Irmãos­ ?RS (Blanco, 2004), Ilhéus­ ?BA (Araújo et al., 2017), Planaltina­ ?DF (Duarte, & Pereira, 2018), Quatro Pontes, Marechal C. Rondom, Itaipulândia, Medianeira, Foz do Iguaçu, São Miguel do Iguaçu e Matelândia­ ?PR (Schmidt et al., 2016) e Santana do Livramento­ ?RS (Caliari et al., 2016; Cipolat et al., 2019; Cipolat, & Bidarte, 2022). O turismo rural adquiriu grande relevância em escala internacional e passou a ser promovido em diversos lugares. Estudos a respeito já foram realizados na Argentina (Schlüter, 2015; Mattioli, 2021), China (Liu, & Wong, 2019), Espanha (Castrillon, Canto, & Cantorna, 2009; Martín et al., 2017), Estônia (Bardone, & Kaaristo, 2014), Geórgia (Khartishvili et al., 2019), Hungria (Lakner et al., 2018), Irã (Hemmati, 2020), Itália (Garau, 2015), México (Peréz, 2013), Nova Zelândia (Mackay, Perkins, & Taylor, 2014), Portugal (Carvalho, Lima, & Kastenholz, 2014), Romênia (Tiberiu et al., 2018) e Vietnã (Long, & Nguyen, 2018). Estes autores sinalizam que os recursos naturais, históricos e culturais podem ser e estão sendo explorados como forma de potencializar a oferta turística rural aos visitantes nacionais e internacionais, aproveitar um nicho de mercado, gerar identidade local e renda complementar e pensar alternativas de ocupação no campo. PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 Marcos Vinicius Dalagostini Bidarte, Camila dos Santos Pinto 467 De fato, ao identificar um nicho de mercado, segmento da demanda não atendido pela concorrência, um empreendimento se posiciona de forma a estar protegido contra as forças da concorrência direta. Atua, assim, em um mercado em concorrência monopolística, com maiores margens de lucro devido à capacidade de diferenciação do produto ou serviço (Mintzberg, Ahlstrand, & Lampel, 2000; Hitt, Ireland, & Hoskisson, 2002; Pindyck, & Rubinfeld, 2013; Wright, Kroll, & Parnell, 2000). Assim, os recursos naturais, históricos e culturais constituem possibilidades de aproveitamento no processo de formulação de estratégias turísticas e podem ser transformados em entretenimento, fonte de lazer e conhecimento para os visitantes. Através de uma visão sistêmica da propriedade e da percepção da realidade, o proprietário terá condições de formular estratégias turísticas a partir das características de sua propriedade, identificando as capacidades, as vocações e as potencialidades da localidade. Desta forma, ao aproveitar a variedade de recursos naturais, culturais e históricos, o proprietário poderá planejar, estruturar e executar um projeto turístico que tenha, por exemplo, caminhadas de contemplação da fauna e da flora, apreciação do pôr do sol, banhos de rio, trilhas ecológicas, sítios arqueológicos, rapel e escaladas, contato com manifestações populares e diversidade cultural, entre outras atividades (Azevedo, & Rodrigues, 2015; Caliari et al., 2016; Cipolat et al., 2019; Cipolat, & Bidarte, 2022; Mattioli, 2021; MTur, 2007; Soares et al., 2017). A diferenciação é uma estratégia competitiva que diz respeito à posição relativa do empreendimento na indústria em que atua, pois à medida em que a empresa que se diferencia das demais procura tornar­?se única em seu setor. A diferenciação ocorre em dimensões valorizadas pela demanda, posicionando­ ?se de forma a atendê­ ?la. Ao diferenciar­ ?se, essa empresa passa a ter algum poder de monopólio, o que lhe permite cobrar um preço­ ?prêmio determinante para sua rentabilidade superior à média das indústrias com produtos homogêneos (Hitt, Ireland, & Hoskisson, 2002; Pindyck, & Rubinfeld, 2013; Porter, 1989, 2004). Diferenciar­ ?se dos concorrentes é uma estratégia relacionada à segmentação da indústria, que se constitui pela combinação de uma variedade específica de produto ou serviço para o qual existe um grupo de compradores específico, podendo ser um segmento já bem identificado e no qual já existem empresas atuando, mas também um segmento potencial ainda não atendido (Hitt, Ireland, & Hoskisson, 2002; Porter, 1989, 2004). A cultura, neste contexto, é uma dimensão considerada central na diferenciação dos destinos turísticos, haja vista seus elementos tangíveis (patrimônio arquitetônico, monumentos, museus, obras, livros, documentos e fotografias) e intangíveis (costumes, tradições, modo de vida, identidade, rituais, músicas, danças e culinária). Os elementos intangíveis constituem recursos endógenos que passaram a integrar a experiência do rural, procurada cada vez mais pelos visitantes, o que denota potencial de segmentação. As condições geográficas, topográficas, geológicas, ambientais e ecológicas podem ser utilizadas como estratégias para fomentar o turismo rural, num processo de aproveitamento das potencialidades naturais locais das propriedades. Deste modo, os visitantes podem desfrutar de atividades turísticas diferenciadas, relacionadas ao uso dos recursos naturais, como já sugerido por diversos autores (Azevedo, & Rodrigues, 2015; Caliari et al., 2016; Carvalho, Lima, & Kastenholz, 2014; Cipolat et al., 2019; Cipolat, & Bidarte, 2022; Garau, 2015; Liu, & Wong, 2019; Khartishvili et al., 2019; Peréz, 2013; Schmidt et al., 2016; Schlüter, 2015; Soares et al., 2017; Tiberiu et al., 2018). Nesse sentido, conforme Mattioli (2021) o turismo, quando vocação territorial local, é fator estratégico dinamizador do desenvolvimento, bem como facilitador da proteção, conservação e preservação do patrimônio local, entendido de forma ampla. Entretanto, é imprescindível que o proprietário considere a capacidade de carga da sua propriedade. A capacidade de carga é uma técnica para a gestão do turismo, particularmente para ambientes naturais mais sensíveis. Ela considera quantos visitantes um determinado local ou ambiente pode suportar sem que ocorra sua deterioração ou sua descaracterização de forma irreversível, bem como sem que ocorra declínio na qualidade da experiência dos visitantes. A capacidade de carga não é o nível após o qual os impactos surgem; qualquer presença de visitantes e de atividades turísticas poderão causar impactos. Há diversas tipologias de capacidade de carga, como: capacidade perceptiva, psicológica ou social; paisagística; material; física; econômica; ambiental. Sendo atividade turística e/ou recreativa, a capacidade de carga merece atenção no planejamento e na gestão do projeto do destino visitado para que ocorra em condições de sustentabilidade (Pires, 2005; Mattioli, 2021). O Rio Grande do Sul é um estado brasileiro com vastas opções de turismo, que vão do turismo ecológico e esportivo, passando pelo turismo de sol e praia até ao gastronômico e histórico­ ?cultural (Rio Grande do Sul, 2020). Neste sentido, o turismo rural mostra­ ?se como uma atividade importante a ser explorada para a economia dos municípios do estado, que contribui para o leque heterogêneo de produtos e serviços desenvolvidos, especialmente àqueles relacionados à sustentabilidade (Bidarte, & Costa, 2017a, 2017b; Cipolat et al., 2019; Cipolat, & Bidarte, 2022). PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 468 Recursos naturais e histórico­ ?culturais como elementos estratégicos no turismo rural Diante da importância social, econômica e ambiental do turismo rural, o presente estudo visa analisar as estratégias turísticas desenvolvidas pelos proprietários da Estância da Glória e da Fazenda Palomas, no município gaúcho de Santana do Livramento, localizado no estado brasileiro do Rio Grande do Sul (Imagem 1). O município faz parte da região turística denominada Região do Pampa Gaúcho, situado na chamada microrregião Fronteira Gaúcha. O Bioma Pampa abrange 63% do território gaúcho, se estende aos territórios da Argentina e Uruguai e possui diversidade de fauna e flora e expressões socioculturais das populações singulares. Cabe destacar que Santana do Livramento possui área de proteção ambiental, denominada APA do Ibirapuitã (Ministério do Meio Ambiente do Brasil, 1999), sobre a qual está situada uma das propriedades estudadas. Imagem 1: Localização de Santana do Livramento no estado do Rio Grande do Sul/Brasil Fonte: IBGE Mapas (2019). Adaptado pelos autores. Este estudo está estruturado em quatro seções, além desta introdução com aporte teórico, onde se busca tecer considerações acerca do contexto em que este estudo está inserido, apresentando seus principais elementos. Na segunda seção apresenta­ ?se, de modo aplicado, os procedimentos metodológicos utilizados na condução deste estudo. Na terceira seção apresentam­?se as subseções de análise dos dados e a discussão dos resultados. Nesse momento do texto, realizam­ ?se apontamentos iniciais sobre a Estância da Glória e a Fazenda Palomas, para, em seguida, analisar as estratégias turísticas desenvolvidas pelos seus proprietários utilizando recursos naturais, culturais e históricos. Por fim, na quarta seção, apresentam­ ?se as considerações finais com sugestões de estudos futuros na área. 2. Procedimentos metodológicos Este estudo busca analisar as estratégias turísticas desenvolvidas pelos proprietários da Estância da Glória e da Fazenda Palomas, propriedades pioneiras em turismo rural no município gaúcho de Santana do Livramento/Brasil. Optou­ ?se pelo estudo com abordagem qualitativa e caráter descritivo, realizado através dos métodos comparativo (Collis, & Hussey, 2005; Creswell, 2007; Flick, 2009) e estudo de caso (Yin, 2015). As técnicas de coleta de dados utilizadas foram entrevista semiestruturada, observação e registros fotográficos (Collis, & Hussey, 2005; Creswell, 2007), as quais são descritas ao longo desta seção. No caso do presente estudo, a utilização de múltiplas fontes de coleta de dados possibilitou aos pesquisadores PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 Marcos Vinicius Dalagostini Bidarte, Camila dos Santos Pinto 469 compreender e interpretar as estratégias turísticas desenvolvidas pelos proprietários da Fazenda Palomas e da Estância da Glória, enriquecendo o estudo com detalhes através da triangulação dos dados (Flick, 2009; Yin, 2015). Para as entrevistas semiestruturadas, foram formuladas questões com base nos estudos de Araújo et al. (2017), Azevedo e Rodrigues (2015), Blanco (2004), Caliari et al. (2016), Carvalho, Lima e Kastenholz (2014), Cipolat et al. (2019), Dias (2003), Machado (2005), Marques e Santos (2014) e Peréz (2013) e nas orientações do Ministério do Turismo do Brasil (MTur, 2004, 2007, 2010). O roteiro temático utilizado durante as entrevistas foi estruturado em três grandes blocos, abordando as estratégias turísticas desenvolvidas nas propriedades utilizando recursos naturais, culturais e históricos, como pode ser observado no Quadro 1. Quadro 1: Roteiro temático utilizado durante as entrevistas Bloco Questões Recursos Naturais 1) Quais atividades turísticas são desenvolvidas envolvendo recursos naturais? 2) De que forma há o resgate/valorização do patrimônio natural? 3) Há atividades turísticas desenvolvidas de acordo com as estações do ano? Quais? 4) Como que a propriedade prima pela conservação do ambiente natural? 5) Como que a propriedade integra o visitante com a natureza? Recursos Culturais 1) Quais atividades turísticas são desenvolvidas envolvendo recursos culturais? 2) De que forma há o resgate/valorização do patrimônio cultural? 3) Há atividades que possibilitem aos visitantes a vivência das lidas campeiras? 4) Quais os pratos típicos oferecidos aos visitantes? 5) Como que a propriedade integra o visitante com a cultura da região? Recursos Históricos 1) Quais atividades turísticas são desenvolvidas envolvendo recursos históricos? 2) De que forma há o resgate/valorização do patrimônio histórico? 3) Como que a propriedade integra o visitante com a história da região e da propriedade? 4) Comente sobre a história da família e da propriedade. Fonte: Elaborado pelos autores. Durante o primeiro contato para as entrevistas, os proprietários foram consultados e concordaram que seus depoimentos fossem gravados em áudio. Eles assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Creswell, 2007; Flick, 2009), autorizando a utilização do nome das propriedades, a análise dos conteúdos dos depoimentos e a utilização de trechos dos depoimentos no decorrer da análise dos dados. As entrevistas foram realizadas no início do período da tarde, sendo duas em cada propriedade, com duração aproximada de 60min cada. Após as entrevistas, os proprietários da Fazenda Palomas e da Estância da Glória guiaram os pesquisadores pelas propriedades, mostrando e explicando sobre suas estruturas, instalações, atividades e atrações, o que durou até o pôr do sol. Nesse momento, ocorreu a observação e os registros fotográ? ficos. A observação permitiu aos pesquisadores verificar, registrar e entender melhor de que maneira as potencialidades da Estância da Glória e da Fazenda Palomas estão sendo exploradas por seus proprietários; e os registros fotográficos foram realizados para captar os recursos naturais, históricos e culturais e algumas atividades turísticas desenvolvidas nas propriedades estudadas (Collis, & Hussey, 2005; Creswell, 2007). Os dados coletados foram submetidos às análises de conteúdo categorial (Bardin, 2016) e interpre? tativa (Creswell, 2007; Flick, 2009), respeitando os critérios de validade dos dados coletados no estudo qualitativo, como exaustividade, homogeneidade, exclusividade, objetividade e adequação (Bardin, 2016). As seções a seguir apresentam os dados e suas análises, iniciando com apontamentos sobre a Estância da Glória e a Fazenda Palomas. PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 470 Recursos naturais e histórico­ ?culturais como elementos estratégicos no turismo rural 3. Estância da Glória e Fazenda Palomas: apontamentos iniciais Em 1995 foi disputada a 37ª edição da Copa América de futebol no Uruguai. Uma das sedes dos jogos foi a cidade de Rivera, fronteira com Santana do Livramento, cidade onde se concentrou a seleção brasileira. Com a movimentação de turistas nas duas cidades devido à realização do evento e a falta de estrutura para atendê­ ?los, os proprietários dos empreendimentos familiares Fazenda Palomas e Estância da Glória perceberam a oportunidade de atuação no turismo rural, e ambos passaram a receber hóspedes como uma atividade complementar de renda em suas respectivas propriedades. A Estância da Glória é uma propriedade de 550ha e localiza­ ?se a 23 km do centro de Santana do Livramento, com acesso pela BR­ ?293 ao percurso de 12 km por estrada vicinal, estando situada em área de proteção ambiental (denominada APA do Ibirapuitã, criada pelo Decreto n. 529, de 20 de maio de 1992) na região dos Cerros Verdes. O estabelecimento da propriedade familiar data de 1917, tendo a pecuária como sua principal atividade produtiva. No turismo rural desde 1995, já nas mãos do atual proprietário, somente em 2005 buscou a formalização da prática do turismo rural de forma planejada e estruturada na propriedade, realizando investimentos em qualificação e infraestrutura para a atividade com vistas a tê­?la como complemento de renda. Inicialmente, as atividades turísticas realizadas na Estância da Glória eram relacionadas à pecuária, como cavalgadas campeiras e arremates, além do turismo de contemplação da natureza. Atualmente, a Estância da Glória atende não só a turistas, como também conta com infraestrutura para eventos como aniversários e reuniões de negócios. Com recursos econômicos oriundos das atividades agropecuárias foram sendo realizados investimentos ao longo do tempo, voltadas ao turismo rural. Na Estância da Glória, dois chalés foram construídos, um em 2010 e outro em 2013, ambos separados da casa principal, zelando pela independência e privacidade dos visitantes. Por sua vez, a Fazenda Palomas é um empreendimento situado na localidade da Vila Pampeiro, também na zona rural do município de Santana do Livramento. A propriedade de 800ha tem acesso pela BR­ ?158, em trajeto de 7 km em estrada de chão. Foi fundada em 1897 e é atualmente administrada pela quarta geração da mesma família. A propriedade tem como principais atividades a bovinocultura e a ovinocultura de corte, além de lavouras de arroz e soja. Após 21 anos de operação, o proprietário da Fazenda Palomas afirmou ter interrompido as atividades turísticas devido às más condições de trafegabilidade das estradas vicinais que dão acesso à propriedade, cuja conservação e manutenção é de responsabilidade do poder público municipal. É importante mencionar que esse é o principal entrave relatado por ambos os entrevistados, pois a estrutura precária dessas estradas inibe o fluxo de turistas e compromete a viabilidade econômica da atividade. 3.1. Estratégias turísticas utilizando recursos naturais: aproveitando o que a natureza oferece As propriedades estudadas possuem potencial de paisagens e recursos naturais que podem ser explorados estrategicamente no desenvolvimento de atrativos e atividades turísticas. Esse potencial pode ser um aspecto de diferenciação para atração de turistas de áreas urbanas, que partem do urbano e cinza para experienciar o rural e verde. Nestas propriedades a oferta de atividades turísticas variam conforme as estações do ano: no verão e na primavera há uma maior oferta dessas atividades devido aos dias serem mais longos, já no outono e no inverno há uma redução na oferta delas em função do próprio ciclo da natureza. Contudo, é justamente no inverno que aumenta a demanda por hospedagem devido aos visitantes que buscam experenciar o frio típico da região. Na Estância da Glória, as atividades turísticas utilizando recursos naturais oferecidas aos visitantes são: pesca; trilhas ecológicas; caminhadas diurna e noturna de contemplação da fauna e da flora; apreciação do pôr do sol; banhos no arroio¹, no lago e na Cascata do Macaco Branco; já na Fazenda Palomas, as atividades são: observação de pássaros, estrelas, fauna e flora; trilhas e caminhadas ecológicas; apreciação da paisagem. Segundo o proprietário, na Fazenda Palomas não há rotinas ou atividades programadas, o visitante é autônomo na condução de sua experiência no turismo rural, ou seja, este que decide quando e quais atividades realizar. Apesar do esforço dos proprietários em ofertar atividades turísticas de recreação e entretenimento vinculadas à natureza, notou­ ?se que as propriedades carecem de ações de planejamento e de implantação de infraestrutura para o desenvolvimento dessas atividades, e que há uma tendência de segmentação no que tange à oferta das atividades turísticas, com o objetivo de atender às necessidades de demandas específicas. Realidade similar ao de outros municípios brasileiros, conforme estudos de Azevedo e Rodrigues (2015), Marques e Santos (2014), Reis e Vavassori (2013), Schmidt et al. (2016) e Soares et al. (2017). PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 Marcos Vinicius Dalagostini Bidarte, Camila dos Santos Pinto 471 O arroio e a Cascata do Macaco Branco constituem exemplos de recursos naturais explorados pelo proprietário da Estância da Glória como atrativo e atividade turística aos visitantes. O arroio foi percebido pelo proprietário como uma potencialidade natural da propriedade, sendo utilizado para o banho; a Cascata do Macaco Branco fica localizada em outra propriedade, a aproximadamente 5 km de distância da Estância da Glória, sendo utilizada para trilhas e banhos. O acesso a esses locais se dá por meio de carro, trilha a pé ou cavalgada. Ainda assim, o arroio e a Cascata do Macaco Branco possuem ampla beleza cênica da paisagem do Bioma Pampa, com elementos naturais que podem ter seu uso ampliado. Aproveitando o córrego que desce de um dos cerros da propriedade da Estância da Glória, um lago artificial foi construído pelo proprietário em 1984 (Imagens 2a e 2b). Na visão dele, a presença do lago gera um ambiente agradável, embeleza a paisagem e possibilita o desenvolvimento de atividades turísticas como banhos nos meses mais quentes do ano, lazer (por exemplo, utilização de caiaque) e pesca de traíras (hoplias malabaricus) pelos visitantes, as quais, posteriormente, são preparadas e consumidas nas refeições realizadas no galpão (Imagem 2b, canto superior direito). Imagem 2: Lago na Estância da Glória Fonte: Registros fotográficos realizados pelos autores. A diversidade da flora do Bioma Pampa presente nas propriedades enriquece o percurso das trilhas e caminhadas ecológicas realizadas, pela possibilidade de observação de animais típicos da fauna do Bioma Pampa. Em ambas as propriedades os turistas podem observar as seguintes espécies nativas: martim­?pescador­?pequeno (chloroceryle americana), mergulhão (podilymbus podiceps), perdiz (nothura maculosa), preá (cavia aperea), quero­ ?quero (vanellus chilensis), ratão­?do­?banhado (myocastor coypus), tatu­?mulita (dasypus hybridus), sorro (lycalopex gymnocercus), zorrilho (conepatus chinga), entre outros. Na Estância da Glória os visitantes que chegam de carro têm acesso à sede da fazenda percorrendo o chamado ?Túnel Verde?, um trecho da estrada já dentro da propriedade que foi aberto por entre as árvores nativas, formando um túnel (Imagem 3a). De acordo com o proprietário da Estância da Glória, a criação da Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã (APA do Ibirapuitã) foi importante para que a presença de animais nativos voltasse a ser observada, como, por exemplo, o jacu (penelope), que convive em harmonia com as galinhas (gallus gallus domesticus), conforme pode ser observado na Imagem 3b. Isso fica evidente no seguinte trecho de seu discurso: ?Com a APA, têm espécies [referindo­ ?se aos jacus] que apareceram recentemente e ficam aí dando show pra gente?. A APA do Ibirapuitã é a maior área de conservação desta categoria no estado do Rio Grande do Sul e a maior unidade que protege ecossistemas da região pampeana e parte da bacia do rio Ibirapuitã. Criada no início dos anos 1990, ela ocupa uma superfície superior a 315 mil ha, com formações campestres e florestais de clima temperado. Vale destacar que um dos motivos de sua criação é fomentar a educação ambiental, a pesquisa científica e o turismo ecológico ou rural ? já que apresenta inúmeras oportunidades para seu desenvolvimento (para informações detalhadas, ver Ministério do Meio Ambiente do Brasil, 1999). O potencial paisagístico da APA do Ibirapuitã é imenso. Há banhados, campos, matas, morros, rios e vertentes, que, em conjunto, criam uma paisagem única, diferenciada, livre da monotonia das paisagens homogêneas. Incluída em roteiros de visitação da Estância da Glória, o valor cênico pode ser melhor explorado. A B PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 472 Recursos naturais e histórico­ ?culturais como elementos estratégicos no turismo rural Imagem 3: Estância da Glória: ?Túnel Verde? (A) e convivência entre animais domésticos e nativos do Bioma Pampa (B) Fonte: Registros fotográficos realizados pelos autores. A água que abastece a Estância da Glória provém das vertentes localizadas nos cerros, sendo armazenada para consumo na propriedade. Na Fazenda Palomas, a água da chuva é captada por calhas (Imagem 4a) e armazenada em uma cisterna; a água dos banhos é aquecida pelo fogão à lenha com serpentina de cobre. Segundo o proprietário da Fazenda Palomas, a preocupação com o meio ambiente desde 1980 vem ajudando a diminuir a dependência de energia elétrica. Em suas palavras: ?Aproveitamos a água da chuva e ainda a aquecemos na serpentina. Sempre fizemos isso. É uma questão de sustentabilidade?. Percebe­ ?se aqui que os proprietários rurais estão se mostrando atentos às questões ambientais e à sustentabilidade, o que é corroborado pelos estudos de Caliari et al. (2016), Cipolat et al., 2019; Cipolat, & Bidarte, 2022 e Schimdt et al. (2016). Na Fazenda Palomas observa­ ?se a integração agrossilvipastoril (Imagem 4b), sistema de produção que integra os componentes agrícola, pecuário e florestal (plantação da espécie eucalyptus para o conforto térmico e proteção aos animais). De fato, no Bioma Pampa esta integração é recomendada e utilizada de forma crescente em diversas regiões por reconstituir a cobertura florestal, recuperar áreas degradadas e reduzir os impactos ambientais (Balbino, Barcellos, & Stone, 2011). No entanto, o cultivo de eucalipto causa diversos e severos impactos negativos ao ambiente pampeano, pois são árvores exóticas de grande porte em um bioma de vegetação campestre, arbustiva, rasa e de baixa estrutura (Picoli, & Schnadelbach, 2007). Considerando o exposto, pode­ ?se pensar em outras árvores que conservem os campos nativos e a biodiversidade presente na propriedade localizada na região pampeana. Por conhecerem as características e as potencialidades naturais de suas propriedades, os proprie? tários buscam torná­ ?las únicas. Eles sabem que as condições geográficas, topográficas, geológicas, ambientais e ecológicas apresentam potencial de diferenciação das propriedades como destino turístico. Conforme discutido na literatura, esses fatores podem de fato levar à percepção de diferenciação destas propriedades aos olhos dos visitantes, indicando a existência de um segmento de mercado (Hitt, Ireland, & Hoskisson, 2002; Pindyck, & Rubinfeld, 2013; Porter, 1989, 2004). Os proprietários mostram­ ?se interessados em explorar os recursos naturais das propriedades considerando os princípios da sustentabilidade, aumentando, assim, o conjunto de atividades turísticas oferecidas aos visitantes, o que é incentivado pelo Ministério do Turismo do Brasil (MTur, 2007). De modo geral, percebe­ ?se que as várias potencialidades naturais das propriedades são de fato aspectos estratégicos de atração de turistas para as propriedades estudadas. A B PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 Marcos Vinicius Dalagostini Bidarte, Camila dos Santos Pinto 473 3.2.  Estratégias turísticas utilizando recursos histórico­?culturais: diferenciação a partir do modo de vida do gaúcho tradicional Nos empreendimentos Estância da Glória e Fazenda Palomas os visitantes são recebidos e acolhidos pelos respectivos proprietários, o que imprime à experiência a característica hospitaleira do gaúcho da campanha. Eles contam a história da propriedade e de sua família, das atividades rurais e turísticas. Não há um profissional de turismo para auxiliá­ ?los nas atividades de turismo realizadas. Ambos os proprietários optaram pelo turismo rural mais acolhedor e pessoal (MTur, 2004, 2010) em oposição ao turismo tradicional de massa. Os proprietários sabem que o turismo rural é ao mesmo tempo fonte de renda e fonte de pressão antrópica sobre o ecossistema. Buscando estabelecer um equilíbrio nessa relação, eles consideram o número de visitantes que a propriedade comporta sem depreciar o seu patrimônio, o nível de uso que a propriedade pode suportar sem afetar a sua integridade, ou seja, a capacidade de carga turística ambiental, econômica, física e operacional (Pires, 2005). O proprietário da Fazenda Palomas relatou dialogar com os visitantes em português, inglês, espanhol ou francês ao repassar informações sobre a fauna e flora, a história da família e da propriedade, das atividades agropecuárias e turísticas. A tentativa de atuar no segmento de turismo de massa não obteve bons resultados, na visão do proprietário, e isso fica evidente no seguinte trecho de seu discurso: ?Minha experiência não foi muito boa com o turismo de massa. [A qualidade do] atendimento cai, né? Tu começas a ficar mais cansado, mais estressado, para atender bem as pessoas (...) É desgastante ter que explicar tudo de novo para aquelas pessoas que estavam distraídas do grupo?. Em ambas as propriedades foi relatado que ocorre a conservação/valorização do patrimônio cultural por meio da culinária, música, costumes, tradições, danças, modo de vida do típico homem rural. As tradições, a identidade local e os costumes constituem recursos endógenos valorizados pelos proprietários, o que foi evidenciado pelas práticas relatadas nas entrevistas e pelas observações realizadas nas visitas. Diversas atividades turísticas relacionam­ ?se ao modo de vida típico do homem rural: cavalgadas campeiras, manejo de animais, passeios de charrete, rodas de chimarrão e de ?causos?², refeições tradicionais. É interessante destacar que a atividade de manejo de animais no curral com bovinos, equinos e ovinos, possibilita aos visitantes aprenderem as formas de lidar com esses animais e de se aproximarem com as lidas campeiras e a cultura gaúcha. É uma atividade Imagem 4: Fazenda Palomas: Calhas ao redor da casa (A) e rebanho de ovelhas (ovis aries) junto a eucaliptos (eucalyptus) (B) Fonte: Registros fotográficos realizados pelos autores. A B PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 474 Recursos naturais e histórico­ ?culturais como elementos estratégicos no turismo rural supervisionada, com orientações para evitar acidentes e garantir o bem­ ?estar dos visitantes e dos animais. De forma geral, as atividades são pensadas estrategicamente pelos proprietários como forma de aproveitar importantes elementos culturais e históricos das propriedades. O trecho do discurso do proprietário da Fazenda Palomas evidencia sua ação intencional no sentido de explorar turisticamente a cultura local e regional: ?Tento trazer a vivência do homem do campo dessa região, [...] como ele vive, como ele pensa, como ele dorme em seu habitat, que é uma fazenda da região da campanha, para o pessoal poder conhecer a realidade mais simples, comum e real possível?. Assim, observou­ ?se que os proprietários detêm o conhecimento de que a utilização de elementos intangíveis da cultura, principalmente o estilo de vida rural, é considerada central na promoção e diferenciação dos destinos turísticos. Essa diferenciação é cada vez mais procurada pelos visitantes, e possibilita preservar a autoestima do homem do campo e valorizar a identidade da cultura rural local. Essa percepção é corroborada por diversos estudos em várias partes do mundo, como os de Blanco (2004), Carvalho, Lima e Kastenholz (2014), Khartishvili et al. (2019), Long e Nguyen (2018), Schlüter (2015) e Tiberiu et al. (2018), por exemplo. Entretanto, Schlüter (2015) argumenta que a figura original do gaúcho tem apresentado mudanças no decorrer dos anos, visto que, atualmente, por exemplo, o homem do campo tem contado com o auxílio de tecnologias modernas e internet quando realiza suas tradicionais lidas campeiras. Nesse sentido, a figura do gaúcho explorada na atividade de turismo rural é muitas vezes estereotipada, quando seu modo de vida, suas danças, costumes, culinária são apresentadas não como manifestações culturais autênticas, mas atrações turísticas. As receitas típicas da culinária gaúcha e uruguaia, passadas de geração em geração, são um aspecto diferenciador para o turismo nas propriedades. Na Estância da Glória são oferecidos aos visitantes o tradicional churrasco, a parrillada, o arroz de carreteiro, feijão, mogango caramelado e diversas sobremesas, como compotas e geleias de frutas, ambrosia e arroz com leite; na Fazenda Palomas é ofertado o arroz de carreteiro de charque de ovelha, o espinhaço, o pirão temperado, o feijão com carne, churrasco, a paleta e o pernil assado e sobremesas, como ambrosia e compotas de goiaba e marmelo. Os proprietários possuem horta orgânica com alguns tipos de hortaliças que utilizam na preparação de pratos típicos. O  proprietário da Estância da Glória realiza a compra de legumes e verduras orgânicas de um agricultor local (alface, couve, rúcula e acelga), devido à constatação de que os visitantes não possuem o hábito de comê­ ?las e de que a manutenção dessa produção era trabalhosa. Na Fazenda Palomas, as receitas típicas da família são preparadas com ingredientes orgânicos e em panelas de ferro no fogão à lenha, valorizando a comida e realçando seu sabor. Segundo o proprietário, o objetivo é ?(...) a simplicidade bem mostrada, sem muita sofisticação, mas com qualidade?. O objetivo é oferecer alimentos produzidos no local, servindo a comida caseira e natural da região, bem como os produtos produzidos e colhidos nas propriedades. Percebe­ ?se que a gastronomia constitui um elemento potencialmente enriquecedor da experiência turística dos visitantes, como também importante fator de desenvolvimento sustentável, já que na preparação dos pratos são utilizadas hortaliças orgânicas cultivadas nas propriedades. Eventualmente, produtores locais oferecem seus produtos aos turistas durante as refeições na Estância para degustação, podendo também ocorrer a comercialização dos produtos típicos da região, principal? mente os beneficiados, os quais podem ser frescos (para consumo imediato, como hortifrutigranjeiros) ou como suvenires (compotas e geleias de frutas). Neste ponto, observa­ ?se uma imagem positiva com a popularidade do turismo rural: a união do proprietário com os produtores locais, que vislumbraram na cooperação uma alternativa econômica para a geração de renda e para o desenvolvimento local. Nessa direção, é possível ampliar a participação dos atores locais e promover a integração entre agricultura familiar e turismo rural, fortalecendo os laços comunais e trazendo benefícios para eles. Em ambas as propriedades foi verificado que a carne ovina é tida como um diferencial competitivo. Além de ser um importante ingrediente em diversos pratos servidos aos hóspedes (como espinhaço, carreteiro de charque, costela e pernil recheado, entre outros), eventualmente é realizada a comer? cialização de carne ovina aos visitantes. De forma geral, pode­ ?se dizer que a carne ovina constitui um elemento estratégico desenvolvido pelos proprietários para explorar um nicho específico de mercado (Mintzberg, Ahlstrand, & Lampel, 2000; Hitt, Ireland, & Hoskisson, 2002; Pindyck, & Rubinfeld, 2013; Wright, Kroll, & Parnell, 2000), permitindo aos visitantes diferenciar as propriedades de suas concorrentes (Hitt, Ireland, & Hoskisson, 2002; Pindyck, & Rubinfeld, 2013; Porter, 1989, 2004), configurando um segmento de mercado. A estratégia de diferenciação da experiência do turista a partir da carne ovina pode ser verificada nos seguintes trechos do discurso do proprietário da Estância da Glória: ?Eu procuro usar essa carne porque é diferenciada, e também bastante procurada pelo turista, pelo hóspede, que vem pra PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 Marcos Vinicius Dalagostini Bidarte, Camila dos Santos Pinto 475 saborear uma carne ovina, carne natural, de animal criado solto no pasto?; e também do proprietário da Fazenda Palomas: ?Nesse período de atuação ficou muito evidente que o principal atração era a gastronomia, e dentro da gastronomia a principal atração era a carne ovina?. Na Estância da Glória os chalés que acomodam os hóspedes possuem decoração tipicamente rural, construídos com pedras da região. Os visitantes possuem acesso à casa principal, onde reside o proprietário, e podem ver diversas fotos de família e da propriedade. Próximo à casa há um galpão menor com uma lareira de chão, sendo utilizado para encontros eventuais com música, comida e rodas de chimarrão. Observou­ ?se uma charrete, utilizada pela mãe do proprietário quando lecionava em uma escola próxima da propriedade, e uma das mangueiras de pedra (Imagens 3b e 5c), usada para criação de animais e delimitação de área. Há um galpão utilizado para convivência e interação entre os hóspedes e a família do proprietário, o qual possui uma grande lareira, e uma sala ampla, com decoração rústica e repleta de artefatos (Imagens 2b, 5a e 5b) e de retratos de família, especialmente um quadro pintado de seu pai (Imagem 5b). O espaço da sala foi decorado de forma planejada pelo proprietário estando amostra, por exemplo, bancos de madeira forradas com pelegos; cinzeiros rústicos trabalhados em madeira; ferro de passar roupa à brasa; barril de carvalho utilizado pela cervejaria santanense Gazapina, fechada em 1975; antiga geladeira de madeira da marca Steigleder, utilizada por seu avô paterno; e quadros com gaúchos e prendas e com poemas de Martín Fierro ? obra literária de José Hernández que conta a forma de viver do gaúcho típico da região. Na Fazenda Palomas, a casa principal foi construída há mais de cem anos, sendo utilizadas pedras do Cerro de Palomas como um dos materiais de construção (Imagens 5d e 5e), o que demonstra como eram as edificações na região. Essa casa possui sala de estar com lareira e adega com vinhos produzidos por vinícolas locais, escritório, sala de leitura, salão de refeições, cozinha completa, e ainda elementos com inspiração uruguaia, como avarandado com arcos e churrasqueira integrada. A casa possui mobiliário de madeira de influência uruguaia, tendo pertencido às gerações anteriores da família, que ainda é utilizado pela família e pelos visitantes. Há muitos retratos de família e artefatos da cultura gaúcha, como tapetes de couro, cadeiras forradas com pelegos, quadros de artistas locais e regionais, guampas de boi, chapéus, relhos, laços, esporas (Imagem 5d). A casa foi reformada gradativamente, mesclando autenticidade e rusticidade com conforto e qualidade (Imagem 5e), entretanto, mantendo suas características arquitetônicas, de influência uruguaia. De forma geral, observou­ ?se uma mescla de decoração de objetos que contam a história das Famílias Santana e Ibargoyen, das propriedades e da cidade com artefatos característicos da cultura gaúcha. Entende­ ?se que isso constitui um esforço dos proprietários em integrar os visitantes às histórias e memórias dos locais através dos objetos e artefatos expostos. Sobre isso, o discurso do proprietário da Fazenda Palomas é representativo da ação intencional dos proprietários de ambos os empreendimentos rurais ao expor os artefatos utilizados nas lidas campeiras no interior da casa: ?É uma tentativa de mostrar para o pessoal de outras regiões um pouco da nossa cultura (...) E o pessoal é bastante curioso, vê e pergunta muito?. Entende­ ?se que este é um esforço dos proprietários no sentido de integrar os visitantes a histórias e memórias do local através dos objetos expostos. Os proprietários valem­ ?se dos elementos tangíveis de suas propriedades (patrimônio arquitetônico e artefatos) e dos elementos intangíveis (identidade local, costumes, estilos de vida campeira, tradições gaúchas), pois buscam ofertar aos visitantes uma experiência autêntica da cultura local. Todos esses registros e elementos citados ao longo do texto oferecem oportunidades para o resgate histórico e cultural das famílias Santana e Ibargoyen, da região pampeana e seu aproveitamento turístico. No entanto, os visitantes poderiam aprender e compreender mais a identidade local por meio da interação com a comunidade, o que não é oportunizado pelas atividades realizadas e que conferiria mais significado às suas experiências e possibilitaria a construção de momentos únicos. Pode­ ?se pensar sobre a relevância de se trabalhar o turismo na perspectiva de envolver a comunidade santanense. Para os proprietários, empreender no turismo rural representa mais do que abrir as porteiras das propriedades, uma vez que estão vinculados à inovação e à transformação, à possibilidade de integrar as atividades agropecuárias dentro da propriedade, de gerar renda complementar, de buscar o bem­ ?estar familiar, de preservar os recursos naturais, de conservar o patrimônio histórico e cultural e de integrar os visitantes com a cultura e a história local/regional. Tais percepções vão ao encontro de diversos estudos sobre o tema (Blanco, 2004; Caliari et al., 2016; Cipolat et al., 2019; Cipolat, & Bidarte, 2022; Dias, 2003; Machado, 2005; Soares et al., 2017) e, principalmente, em relação ao que o Ministério do Turismo do Brasil (MTur, 2004, 2007, 2010) promove enquanto segmento turístico no país. PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 476 Recursos naturais e histórico­ ?culturais como elementos estratégicos no turismo rural Imagem 5: Es§tância da Glória: lareira e decoração (A); retrato de família (B) e mangueira de pedras (C); Fazenda Palomas: artigos do ?gaúcho? (D) e detalhe da parede da casa construída com pedras do Cerro de Palomas (E) Fonte: Registros fotográficos realizados pelos autores. A D C E B PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 Marcos Vinicius Dalagostini Bidarte, Camila dos Santos Pinto 477 4. Considerações finais Este estudo buscou apresentar como os recursos naturais e histórico­ ?culturais são explorados pelos proprietários da Estância da Glória e da Fazenda Palomas em termos estratégicos. Notou­ ?se que os proprietários identificaram oportunidades de mercado e realizaram um conjunto de atividades turísticas inovadoras para aproveitá­ ?las, as quais agregam valor aos serviços prestados, preservam e promovem o patrimônio natural, histórico e cultural da localidade e região. O serviço turístico prestado por eles na área do Turismo mostra­ ?se diferenciado e personalizado, visto que procuram marcar os visitantes de maneira única, profunda e positiva. Estratégias utilizando recursos naturais, históricos e culturais têm sido desenvolvidas pelos pro? prietários com a finalidade de aproveitar as potencialidades das propriedades e de ofertar atividades turísticas a uma demanda cuja motivação é o contato com a natureza, a história e a cultura local e regional. É por meio do turismo rural que os visitantes possuem a oportunidade de entrar em contato com a natureza e suas manifestações, com os processos agrícolas, com as atividades agropecuárias, com os animais (bovinos, ovinos, equinos e animais silvestres), com a gastronomia tradicional, com a cultura. Observou­ ?se ainda a manifestação de interesse/prática em empreender por parte dos proprietários, os quais possuem a compreensão de como os recursos naturais, históricos e culturais se manifestam e se relacionam, aproveitando­ ?os estrategicamente no processo de desenvolvimento de atividades turísticas no meio rural. A diversidade paisagística associada aos traços culturais e históricos locais e regionais formam uma dessas estratégias com alto potencial de atração turística. Desta forma, os proprietários tornaram­ ?se empreendedores e prestadores de serviços turísticos, trabalhando diretamente na conservação do patrimônio natural, histórico e cultural local e regional. A experiência desenvolvida no município de Santana do Livramento em torno do turismo rural, de fato, se revela uma iniciativa pioneira naquele mercado, inovadora e empreendedora. Porém, mesmo diante das potencialidades verificadas, o aproveitamento do turismo rural na Região do Pampa Gaúcho ainda é incipiente, precisando de ações que possam efetivar e agregar valor aos empreendimentos que formam a base dessa atividade. Ainda, entende­?se que apesar de que haja a identificação, por parte dos proprietários, de possibi ? lidades de ampliação e diversificação da oferta turística e de demanda potencial no segmento, não há um planejamento estratégico ou projeto que detalhe as ações para que tal oferta se concretize. De fato, ainda que as especificidades apontadas em cada propriedade sejam fonte potencial de diferencial estratégico em termos competitivos, é evidente a ausência de um plano estratégico formalizado para que esses elementos sejam explorados como tal. Nesse sentido, uma possibilidade para suprir essa deficiência seria a profissionalização da gestão do negócio turístico, mediante qualificação dos proprietários e/ou contratação de gestores especificamente para esta função, o que poderia ser realizado sem prejuízo do caráter acolhedor da hospedagem. Da mesma forma, uma articulação com o poder público municipal é urgente para que seja garantida a infraestrutura básica de acesso às propriedades por parte dos visitantes, o que poderia ser feito por intermédio de parceria público­ ?privada, assim como articulação entre os ofertantes da indústria santanense do turismo com vistas à atração de visitantes. Embora este estudo considere apenas a visão dos agentes ofertantes, a sua continuidade, incluindo a visão dos agentes demandantes/interessados (como turistas, governo, empresários, moradores), certamente pode trazer novas contribuições, ao propiciar uma visão panorâmica da complexidade do turismo rural no município estudado. Assim, como apontamentos para uma agenda de pesquisa, acredita­ ?se na relevância de estudos sobre empreendedorismo e inovação em turismo rural. Bibliografía Araújo, Q. R. de, Watanabe, C. H., Teixeira, S. L. F., Gramacho, R. C. T., & Demeter, P.  R. 2017. Turismo no Espaço Rural: Trilha Interpretativa da Agricultura Familiar no Rio de Engenho. Ilhéus: MAPA/CEPLAC. Azevedo, R. M. M., & Rodrigues, C. G. O. 2015. Políticas públicas e turismo rural: um estudo acerca das possibilidades e limitações no município de Apodi (RN). Caderno Virtual de Turismo, 15(2), 131­?145. http://www.ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/976/435 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 478 Recursos naturais e histórico­ ?culturais como elementos estratégicos no turismo rural Balbino, L. C., Barcellos, A. O. de, & Stone, L. F. 2011. Marco referencial: integração lavoura­?pecuária­ ?floresta (ILPF). Brasília: Embrapa. Bardin, L. 2016. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70. Bardone, E., & Kaaristo, M. 2014. Staging sensescapes for rural experiences in Estonian farm tourism enterprises. In K. Dashper (ed.), Rural Tourism: An International Perspective (pp. 98­ ?114). Newcastle upon Tyne, England: Cambridge Scholars Publishing. Bidarte, M. V. D., & Costa, A. M. 2017a. Desenvolvimento sustentável e a produção de biocombustíveis: uma alternativa à produção de fumo? Revista Brasileira de Desenvolvimento Regional, 5(3), 111­ ?138. http://dx.doi.org/10.7867/2317­?5443.2017v5n3p111­?138 Bidarte, M. V. D., & Costa, A. M. 2017b. Biocombustíveis como uma alternativa sustentável à produção de fumo: uma análise dos projetos protocolados pela Afubra. Revista Estratégia e Desenvolvimento, 1(2), 135­ ?154. https://periodicos.unipampa.edu.br/index.php/RED/article/view/177/159 Blanco, E. S. 2004. O turismo rural em áreas de agricultura familiar: as ?novas ruralidades? e a sustentabilidade do desenvolvimento local. Caderno Virtual de Turismo, 4(3), 44­ ?49. http://www. ivt.coppe.ufrj.br/caderno/index.php/caderno/article/view/63/58 Caliari, F., Costa, J. H. M. da, Bidarte, M. V. D., Cipolat, C., & Deponti, C. 2016. Desenvolvimento de Turismo Rural Sustentável: Práticas Pampa Gaúcho. In J. A. Márquez (ed.), Planificación territorial, desarrollo sustentable y geodiversidad (pp. 1417­ ?1431). Sevilla: Diputación Provincial de Huelva. Carvalho, M. S., Lima, J., & Kastenholz, E. 2014. Criatividade Cultural ? que oportunidade para destinos rurais? PASOS ? Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 12(3), 635­ ?648. https://doi. org/10.25145/j.pasos.2014.12.047 Castrillón, M. I. D., Canto, A. G., & Cantorna, A. I. S. 2009. Turismo rural como estrategia de diversificación: factores determinantes y resultados en Galicia. Cuadernos de Gestión, 9(2), 31­ ?54. http://www.ehu.eus/cuadernosdegestion/documentos/922.pdf Cipolat, C., Bidarte, M. V. D., Caliari, F., Costa, J. H. M. da, & Deponti, C. 2019. Diversificação no campo e Turismo Rural Sustentável: Um estudo de caso no Pampa Gaúcho. In C. de O. T. Wehmeyer, G. Bridi, A. J. Ferreira, & F. R. Berti (ed.), Turismo: estado da arte e seus múltiplos fenômenos (pp. 156­ ?173). Porto Alegre: Editora Perse. Cipolat, C., & Bidarte, M. V. D. 2022. Rural development and countryside diversification: study on rural tourism practices in the Brazilian Pampa Biome Region. Revista Turismo ? Visão e Ação, 24(1). Collis, J., & Hussey, R. 2005. Pesquisa em administração: um guia prático para alunos de graduação e pós­?graduação. Porto Alegre: Bookman. Creswell, J. W. 2007. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. Porto Alegre: Artmed. Dias, R. 2003. Planejamento do turismo: política e desenvolvimento do turismo no Brasil. São Paulo: Atlas. Duarte, D. C., & Pereira, A. D. J. 2018. O papel da mulher no turismo rural: um estudo no circuito Rajadinha de Planaltina ­ ? Distrito Federal. Rev. Bras. Pesq. Tur., 12(3), 81­ ?103. https://doi. org/10.7784/rbtur.v12i3.1446 Flick, U. 2009. Introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed. Garau, C. 2015. Perspectives on Cultural and Sustainable Rural Tourism in a Smart Region: The Case Study of Marmilla in Sardinia (Italy). Sustainability, 7(6), 6412­ ?6434. https://doi.org/10.3390/ su7066412 Hemmati, M. 2020. Explaining a Perception Model for Rural Tourism from the Landscape Approach. Tourism of Culture, 1(2), 39­ ?46. https://doi.org/10.22034/toc.2020.243927.1019 Hervieu, B. 1996. Los Campos del Futuro. Série: Estudios, n. 118. Madrid: Ministerio de Agricultura, Pesca y Alimentación. Hitt, M. A., Ireland, R. D., & Hoskisson, Robert E. 2008. Administração estratégica: competitividade e globalização (2ª ed.). São Paulo: Cengage Learning. Khartishvili L., Muhar, A., Dax, T., & Khartishvili, I. 2019. Rural Tourism in Georgia in Transition: Challenges for Regional Sustainability. Sustainability, 11(2), 410­ ?430. https://doi.org/10.3390/ su11020410 Lakner, Z., Kiss, A., Merlet, I., Oláh, J., Máté, D., Grabara, J., & Popp, J. 2018. Building Coalitions for a Diversified and Sustainable Tourism: Two Case Studies from Hungary. Sustainability, 10(4), 1090­?1113. https://doi.org/10.3390/su10041090 PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 Marcos Vinicius Dalagostini Bidarte, Camila dos Santos Pinto 479 Liu, R., & Wong, T. C. 2019. Rural Tourism in Globalizing Beijing: Reproduction of the Mountainous Suburbs into a New Space of Leisure Consumption. Sustainability, 11(6), 1719­ ?1739. https://doi. org/10.3390/su11061719 Long, N.T., & Nguyen, T. L. 2018. Sustainable Development of Rural Tourism in An Giang Province, Vietnam. Sustainability, 10(4), 953­ ?973. https://doi.org/10.3390/su10040953 Machado, A. 2005. Ecoturismo: um produto viável: a experiência do Rio Grande do Sul. Rio de Janeiro: Ed. Senac Nacional. Mackay, M., Perkins, H. C., & Taylor, C. N. 2014. Producing and Consuming the Global Multifunctional Countryside: Rural Tourism in the South Island of New Zealand. In K. Dashper (ed.), Rural Tourism: An International Perspective (pp.  41­?58). Newcastle upon Tyne, England: Cambridge Scholars Publishing. Marques, C. B., & Santos, C. H. S. 2014. Tourist routes strategies of local development, PASOS ? Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 12(3), 539­ ?548. https://doi.org/10.25145/j.pasos.2014.12.040 Martín, J. M., Fernández, J. A. S., Martín, J. A. R., & Aguilera, J. de D. J. 2017. Assessment of the Tourism?s Potential as a Sustainable Development Instrument in Terms of Annual Stability: Application to Spanish Rural Destinations in Process of Consolidation. Sustainability, 9(10), 1­ ?20. https://doi.org/10.3390/su9101692 Mattioli, L. 2021. Paisaje, patrimonio y turismo: expresión sistémica en la integración del Corredor Bioceánico Central, PASOS ? Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 19(1), 57­ ?72. https://doi. org/10.25145/j.pasos.2021.19.004 Ministério do Meio Ambiente do Brasil (MMA). 1999. Plano de Gestão da Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã/RS. Brasília: Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Ministério do Turismo do Brasil (MTur). 2004. Diretrizes para o Desenvolvimento do Turismo Rural. Brasília: Ministério do Turismo. Ministério do Turismo do Brasil (MTur). 2007. Roteiros do Brasil: turismo e sustentabilidade. Secretaria Nacional de Políticas de Turismo, Programa de Regionalização do Turismo. Brasília: Ministério do Turismo. Ministério do Turismo do Brasil (MTur). 2010. Turismo rural: orientações básicas (2ª ed.). Brasília: Ministério do Turismo. Mintzberg, H., Ahlstrand, B., & Lampel, J. 2000. Safári de estratégia: um roteiro pela selva do planejamento estratégico. Porto Alegre: Bookman. Peréz, J. I. J. 2013. Manejo de recursos naturales y procesos agrícolas para el turismo rural campesino en un Ejido de transición ecológica de México (Primera parte). PASOS ? Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 11(2), 327­ ?342. https://doi.org/10.25145/j.pasos.2013.11.021 Picoli, L. R., & Schnadelbach, C. V. 2007. O Pampa em disputa: a biodiversidade ameaçada pela expansão das monoculturas de árvores. Porto Alegre: Núcleo Amigos da Terra Brasil. Pindyck, R. S., & Rubinfeld, D. L. 2013. Microeconomia. São Paulo: Pearson Prentice Hall do Brasil. Pires, P. dos S. 2005. ?Capacidade de carga? como paradigma de gestão dos impactos da recreação e do turismo em áreas naturais. Revista Turismo em Análise, 16(1), 5­ ?28. https://doi.org/10.11606/ issn.1984­?4867.v16i1p5­?28 Porter, M. 1989. Vantagem Competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. Rio de Janeiro: Elsevier. Porter, M. 2004. Estratégia Competitiva: técnicas para análise de indústrias e da concorrência (2ª ed.). Rio de Janeiro: Elsevier. Reis, C., & Vavassori, M. C. 2013. Turismo rural em Blumenau (SC): Perspectivas e desafios a partir da avaliação de famílias que acolhem visitantes em suas casas. Rev. Bras. Pesq. Tur., 7(2), 209­ ?219. https://doi.org/10.7784/rbtur.v7i2.630 Rio Grande do Sul. 2020. Atlas Socioeconômico do Rio Grande do Sul (5ª ed.). Porto Alegre: Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão. Schlüter, R. G. 2015. Turismo Rural en Argentina: antecedentes y desafíos sctuales. Desafio Online, 3(3), 1256­ ?1272. https://periodicos.ufms.br/index.php/deson/article/view/1542/1138 Schmidt, C. M., Tomio, M., Alves, J. K. D., & Rossi, F. 2016. O empreendedorismo coletivo no contexto do turismo rural sustentável: uma experiência do Sul do Brasil. PASOS ? Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 14(5), 1161­ ?1174. https://doi.org/10.25145/j.pasos.2016.14.077 Soares, J. G., Cardozo, P. F., Fernandes, D. L., & Holm, C. C. 2017. Planejamento participativo do turismo em comunidades rurais: Estudo comparativo entre as comunidades étnicas de Castrolanda, PASOS. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. 20 N° 2. abril?junio 2022 ISSN 1695?7121 480 Recursos naturais e histórico­ ?culturais como elementos estratégicos no turismo rural Entre Rios e Witmarsum no Paraná, Brasil. PASOS ? Revista de Turismo y Patrimonio Cultural, 15(4), 897­ ?911. https://doi.org/10.25145/j.pasos.2017.15.061 Tiberiu, I., Cornelia, A. T., Cornelia, P., Ioan, P., Ioan, B., Sorin, S., & Adrian, B. 2018. Aspects That Characterize Rural Tourism Activity in Sibiu County. Lucrari Stiintifice Management Agricol, 20(1), 163­ ?171. http://lsma.ro/index.php/lsma/article/view/1391/pdf Wright, P., Kroll, M. J., & Parnell, J. 2000. Administração estratégica: conceitos. São Paulo: Atlas. Yin, R. K. (2015). Estudo de caso: planejamento e métodos. Porto Alegre: Bookman. Notas ¹ Arroio é um termo regional, com ocorrências nos Estados da Região Sul do Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), referente a cursos de água de pequena extensão. ² Causos são narrações, geralmente orais e curtas, repletas de significados e aparatos linguísticos, que relatam acontecimentos inventados ou verdadeiros que fazem parte da cultura gaúcha tradicional. Recibido: 08/04/2021 Reenviado: 06/08/2021 Aceptado: 24/08/2021 Sometido a evaluación por pares anónimos